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Sacerdote de Umbanda, formado pelo Templo de Umbanda Caboclo Sete Flechas, Ogã formado pelo Templo de Umbanda Cacique Pena Branca, Sócio - Filiado ao Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro e Coordenador Regional do SOI em Amparo/SP

domingo, 24 de abril de 2016

Umbanda - História e Fundação

Uma das situações mais sólidas e difundidas sem grandes contradições é a respeito da História da Umbanda. Acredito ser um entendimento coletivo e muito bem difundido por vários Sacerdotes de alto renomes, como por exemplo Rubens Saraceni.

A história dessa religião é muito extensa, antecedendo o ano de 1908, onde muitos colocam como ponto de partida para sua criação, que de fato o é, mas a sua expansividade antes de chegar até as mãos de nosso pioneiro e fundador, é incontestável.

Não conheci, ou melhor, ainda não li algo que fosse tão profundo na história de nossa religião, não só se pautando nos momentos de Zélio Fernandino de Moraes.

Muito embora se escreve superficialmente sobre nossa religião, isso já se torna fundamental. É imprescindível que todos os Umbandistas dominem esse assunto, haja vista ser o play para discutirmos a Umbanda dos dias atuais e seus rituais, além de ser fato intrínseco a todos os religiosos, sejam de quaisquer segmentos.
Pois bem, vamos aos fatos que nos são revelados.

“Cidade de São Gonçalo, localizada no estado do Rio de Janeiro, um jovem de 17 anos se preparava para servir às forças militares de nossa Nação. Seu nome? Zélio Fernandino de Moraes.
O jovem, de família tradicionalmente Católica, não contava que sua jornada e missão seria totalmente revertida. Em dado momento de sua vida, começou a ter alguns “transtornos psicológicos”, começou a falar sozinho, sonambulismo e entre outros acontecimentos.
Ninguém entendera o porquê daquilo e, prontamente, sua família pede auxílio para o médico psiquiatra, Dr. Epaminondas, tio de Zélio.
O pobre Zélio passou por inúmeros exames, testes, porém não foi encontrado nenhuma irregularidade em sua saúde mental. Não satisfeitos e àqueles problemas ainda ocorrendo, como católicos que eram, buscaram o apoio de outro tio de Zélio que era padre. Zélio passou por vários rituais de exorcismo e rezas, mas nada que o padre realizava surtia efeitos.
A família, já sem esperanças de melhoras, descobre que na região havia uma benzedeira, a qual incorporava um espírito chamado Tio Antônio. Sem muita opção e contrariando princípios da doutrina em que seguiam, buscaram a ajuda da benzedeira e, diante ao espírito de Tio Antônio, este orientou a Zélio dizendo que seu problema não era caso de médico, mas sim espiritual. Ainda diz ao jovem que tinha uma missão a cumprir, mas que logo entenderia isso.
Logo após ouvido os conselhos de Tio Antônio, a família de Zélio descobre que em Niterói/RJ, havia sido inaugurada uma Federação Espirita, recorrendo a esta para tentar resolver o “problema” de Zélio.
No dia 15 de Novembro de 1908, Zélio foi encaminhado a presente Federação Espírita, onde foi colocado à mesa junto a outras pessoas (médiuns) para que participasse daquela sessão espírita.
Fato intrigante foi que, em dado momento, Zélio, impulsionado por uma força, sentiu a vontade de dizer: “Aqui falta uma flor”.
De forma inconsciente, Zélio se levantou e dirigiu-se até o quintal da federação, apanhou uma flor, voltou e a colocou em cima da mesa.
Após o fato, todos muito confusos com a atitude de Zélio, começou-se os trabalhos daquela noite.
*Destaco aqui que o Espiritismo, até muito tempo, considerava os espíritos que incorporam na umbanda de “pouca evolução”, não os aceitando. Essa consideração se faz necessária para o fato que vem a seguir*
Naquele momento, os médiuns que ocupavam a mesa, começam a ficar com suas expressões mais velhas, um jeito mais humilde e simples. Ali, manifestavam-se os espíritos de ex-escravos (não se falava em Pretos Velhos ainda), os quais rapidamente eram “expulsos” pelo dirigente dos trabalhos, pois dizia que ali não era o local adequado para estarem presentes.
Durante todo esse acontecimento na sessão espírita, Zélio já estava incorporado com um espírito e este questionou o dirigente do motivo que expulsaria àqueles humildes espíritos.
Antes de responder o questionamento realizado por àquele espírito, o dirigente pergunta quem o era, e prontamente responde: “Caboclo Sete Encruzilhadas, pois para mim não há caminhos fechados”.
Apresentando-se como caboclo, um vidente que ali estava, questiona-o do porquê suas vestes serem clericais e não de índio. De forma astuta, o Caboclo responde ao vidente: “O que vês são restos/resíduos de uma encarnação anterior em que fui FREI GABRIEL DE MALAGRIDA, queimado na fogueira da inquisição por prever o terremoto de Lisboa”.
Dali em diante, o Caboclo Sete Encruzilhadas anuncia a vinda de uma nova religião, onde os espíritos de negros e índios seriam acolhidos e respeitados. Surge naquele instante a primeira Lei da Umbanda, como sendo:
“Com quem souber mais, aprenderemos; quem souber menos, ensinaremos e a nenhum renegaremos”.
Então, o dirigente dos trabalhos questiona-o sobre o nome dessa religião e que duvidaria se haveria adeptos a ela.
De forma pacienciosa, o Caboclo diz o nome dessa nova religião – “UMBANDA” – e complementa dizendo: “Assim como Maria acolheu seus filhos, a Umbanda acolherá a todos os filhos seus”, e continua, “Amanhã, na casa de meu ‘cavalo’, às 20 horas, iniciará esse novo culto”.
Após encerrado a sessão, todos passaram a duvidar. No dia seguinte, 16 de Novembro de 1908, todos se dirigiram a casa de Zélio para se certificarem se realmente haveria uma nova religião. Para a surpresa de todos, o local estava lotado de adeptos, curiosos e enfermos.
No altar, imagens de santos católicos e ao centro uma mesa (influência do catolicismo e espiritismo), a qual estava rodeada de médiuns e auxiliadores. Às 20 horas daquele dia, como ditado por Caboclo Sete Encruzilhadas, eis a sua manifestação, onde começou a passar seus fundamentos, explicações, procedimentos e o ritual.
No meio da sessão, o caboclo desincorpora e chega em terra um outro espírito, um pouco mais idoso e perceptível a sua humildade e simplicidade. Saiu da mesa e dirigiu-se até um canto da casa onde estava posicionado o congá.
Tratava-se de um Preto Velho e, inquirido do motivo de não estar na mesa, responde dizendo: “A mesa é pro sinhô e não para nego”.
Ali estava o símbolo de humildade da Umbanda, Pai Antônio. Rapidamente solicitou seu cachimbo, sendo ele o primeiro a pedir um elemento (fumo) dentro do culto da umbanda.
Ressaltamos que, além do fumo, Pai Antônio inseriu a bebida (marafo) e as oferendas, tudo na forma como preceitua o ritual. É o primeiro a trazer para dentro de nossa liturgia o Culto aos Orixás, ou melhor, Devoção aos Orixás.
A partir daquele momento, instituiu-se o ritual da Umbanda. Foi anunciada no dia 15 de Novembro de 1908 e fundada em 16 de Novembro de 1908, tratando-se de datas históricas para a nossa Cultura”.

Em breve análise sobre nossa história, narrando o surgimento e um pouco de relatos que são amplamente difundidos, podemos compreender de forma clara o fundamento essencial da Umbanda, calcada no acolhimento sem distinção, na humildade, na sabedoria e na simplicidade.
É claro que não terminou aí a sua história, pois passou-se, posteriormente, para a fase de sua divulgação e propagação (que se perdura até os dias atuais), mas esse fato analisaremos posteriormente.
O que quis enfatizar nesse primeiro momento, foi a fundação e seu surgimento, suas datas (até que se tornou lei em nosso ordenamento), seu fundador, suas ideologias pautadas na caridade sem distinção, acolhimento de encarnados e desencarnados, os reconhecendo como legítimos irmãos, humildade e simplicidade.
Isso são fatores primordiais e que pairam sobre nossa religião e em nossa conduta, que JAMAIS pode ser diferente, ou melhor, contradizendo o postulado do Caboclo Sete Encruzilhadas.
Friso aqui que, muito embora a fundação tenha se dado no dia 16 de Novembro de 1908, a data de anunciação foi dada, por força de Lei Federal, como Dia Nacional da Umbanda (Lei 12.644, de 16 de Maio de 2012), sendo uma grande conquista a todos nós.
Aqui encontra-se um pouco de nossa história, a qual ainda não encerramos. Na próxima publicação abordaremos a manifestação do Orixá Malê e as Tendas que foram fundas pelo Caboclo Sete Encruzilhadas, fatos importantes para nossa doutrina.
Agora, apenas para melhor fundamentar a primeira “lei” de nossa religião, trago a baila o minister do Pai Rubens Saraceni que diz em seu livro:

…seus iguais e não seus semelhantes. Iguais porque, independentemente de qualquer diferenciador, somos humanos, e se o verdadeiro humanismo imperar em nosso íntimo, não cometeremos injustiças de pré-julgar ninguém em função de suas origens e formações. E muito menos, não vemos os mais ou menos necessitados. Não privilegiamos uns em detrimento de outros. Não excluímos médiuns “iletrados” em benefício dos mais “estudados”, e entenderemos o modo de ser, de falar, de se vestir e de se relacionar de todos os que adentram nos centros de Umbanda”.
Saraceni, Rubens. Fundamentos Doutrinários de Umbanda. 01 ed. São Paulo. Madras, 2012.

Espero que esse ensinamento de Pai Rubens, coadunado com o do Caboclo Sete Encruzilhadas, possa lhe trazer reflexões sobre nossas condutas, muitas vezes, erradas.
Aqui está uma parte de nossa história e espero ter sido claro na explanação. Espero ainda que tenha despertado a ânsia de estudo em vocês e sanado dúvidas daqueles que não a conheciam.

Axé, Saravá!
Pai Igor Luís de Camargo.

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