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Sacerdote de Umbanda, formado pelo Templo de Umbanda Caboclo Sete Flechas, Ogã formado pelo Templo de Umbanda Cacique Pena Branca, Sócio - Filiado ao Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro e Coordenador Regional do SOI em Amparo/SP

segunda-feira, 25 de abril de 2016

RITUAL DE JUREMA E CATIMBÓ



Hoje versaremos sobre um tema diferenciado, mas com total ligação à Umbanda e a manifestações dos guias espirituais. Embora muito vasta a história da Umbanda, vamos tratar um pouco das influências que estão contidas no ritual.

Embora passado despercebido ou então pouco conhecido, no ritual da umbanda possuímos aspectos que, muitas vezes, são de cultos diferenciados e distintos. Quando falamos nos pontos cantados, quem nunca ouviu o tradicional ponto de abertura: “vou abrir minha Jurema, vou abrir meu Juremá” ou talvez quando tratamos de pontos de defumação: “defuma com as ervas da Jurema, defuma com arruda e guiné”.

Detalhes que muitas vezes não pensamos ou até imaginamos o que seja, mas quando sabemos do fundamento, sempre uma grande revelação.

Pois então vamos começar com o Ritual de Jurema Sagrada.

Quando falamos no ponto de abertura “vou abrir minha Jurema” ou até mesmo no ponto de defumação “defuma com as ervas da Jurema”, estamos fazendo reverência ao Ritual de Jurema Sagrada que, até os dias atuais, se cultua em alguns estados.

Trata-se de um culto brasileiro que já trabalhava com a espiritualidade, havendo a incorporação de Caboclos, Pretos Velhos, e outras entidades que hoje trabalham também na linha de Umbanda. Esse culto existe bem antes da Umbanda ser anunciada e iniciada em solo brasileiro.

O Culto de Jurema trata-se de um culto que voltava-se para a PAJELANÇA, remetendo-nos a figura do índio.

Para tanto, existem duas formas de Pajelança que foram realizadas: 

 PAJELANÇA TRADICIONAL 
 PAJELANÇA CABOCLO
A primeira (Tradicional) reflete o ritual puro, o qual não sofreu interferências externas ou teve alterações no seu ritual. Refere-se ao culto praticado pelos índios nativos sem haver a influência europeia.

Nessa esteia, podemos ver que há um liame entre o culto puro indígena (Pajelança Tradicional) com a representatividade do Caboclo que trabalha dentro do ritual Umbandista.

Depois, com a interferência da cultura europeia e a vinda dos africanos ao Brasil, o ritual de Jurema sofreu alterações, não mais se tratando de culto puro indígena. A Pajelança Caboclo trata-se da mistura entre o ritual indígena e a influência externa provinda com os europeus e os negros africanos.

O que devemos saber que, antes de existir o ritual de umbanda, existia o culto de Jurema onde a incorporação de entidades que hoje trabalham na umbanda, já era praticada, sempre de forma voltada ao ritual indígena.

Após essas interferências sofridas, a qual deram origem a Pajelança Caboclo, surgiu a Encantaria Brasileira, esta que cultuavam espíritos que desencarnaram, mas que se tornaram seres divinos.
Esse tipo de prática foi estendida pelo solo carioca (Rio de Janeiro) e o solo paulista (São Paulo), esta que misturava a Pajelança oriunda dos cultos indígenas (manifestação do índio/caboclo), o culto aos Orixás (trazida pelos africanos) e a Magia Europeia, a qual trouxe os feitiços e encantarias que eram realizados aos redores da Europa.

Tais práticas ficaram conhecidas como QUIMBANDA ou MACUMBA. Claro que o termo utilizado para denominar essas Encantarias, na atualidade, são utilizadas de forma pejorativa, a fim de denigrir a imagem dos cultos africanos.

Em breve faremos uma síntese nas diferenças entre QUIMBANDA, CANDOMBLÉ, UMBANDA e QUIUMBANDA, onde mostraremos de forma clara que os termos são utilizados de forma incorreta.
Mas por ora, deixamos claro que QUIMBANDA ou MACUMBA são práticas relacionadas a feitiçarias e magias, mas que não estão ligadas à prática de magia negra. Isso é outro culto que não podemos associar como benéfica!

Desta forma, percebemos que a Umbanda é um misto de culturas, mas algumas vezes conhecemos o básico envolvente (cultura do negro africano, sincretismos..) e desconhecemos outras culturas que interferiram direta ou indiretamente na nossa religião.

Depois do Culto de Jurema, veio também o CATIMBÓ, culto do Nordeste Brasileiro que possui algumas diferenças do Ritual de Jurema. Embora na sua estrutura muito parecidos, até por conta de nomes ou práticas que são semelhantes, são práticas distintas.

Há quem diga que Jurema e Catimbó é a mesma coisa, mas uma remete ao Culto Indígena e outro com práticas e métodos distintos.

A palavra Catimbó possui vários significados, mas o que muitos lecionam e agora de forma majoritária, dizem que CATIMBÓ provém de cat (fogo) + timbó (erva, mato), o que na junção fica FOGO NO MATO.

Isso porquê o Catimbó faz o uso de muitas ervas em seu ritual, algumas vezes arruda e guiné, também utilizando o Cachimbo de Angico ou Cachimbo de Jurema onde as ervas eram colocadas.

Trata-se de um ritual que, muito embora cultuando os guias espirituais que, na tradição do Catimbó são denominados de MESTRES, possui uma grande interferência do Cristianismo (imagens dos santos, as rezas, terços) e também a influência do Catolicismo, quando nos remete ao lembrar do batismo dos índios.

Vejamos, dessa forma, que foi uma adaptação do Ritual de Jurema, onde, em primeiro momento, era o culto dos índios sem qualquer influência de outra cultura (Pajelança Tradicional), mas que foi alterada após a vinda dos Europeus e Africanos, os quais trouxeram novas culturas ligadas à religiosidade, surgindo a Pajelança Caboclo.

Por óbvio, o Catimbó herdou toda essa cultura da Jurema, principalmente no que tange a Pajelança Caboclo, fato que corrobora com a diversidade dentro do culto Catimbó.

No ritual, os “Juremeiros” ou “Catimbozeiros”, possuem os padrinhos espirituais que, na oportunidade são Santo Antônio e Nossa Senhora do Carmo. Aqui podemos ver nitidamente a presença do Catolicismo, quando colocam como padrinhos do ritual santos católicos.

Mas nem por isso perde a sua identidade!

Para que se faça parte do Culto de Catimbó, o adepto necessita passar por alguns processos/etapas iniciatórias.  

JURAMENTO  
TOMBO 
JUREMAÇÃO
Assim como toda doutrina religiosa, existe dentro do Catimbó o JURAMENTO, onde nesse momento o iniciante recebe como presente o Cachimbo de Angico / Jurema muito utilizado no ritual.

Passado a fase do juramento, a etapa seguinte é denominada de TOMBO, fase em que o iniciante deve relatar um sonho tido como o MESTRE (guia espiritual) e posteriormente realizar uma oferenda à ele

Por último, a fim de tornar aquele indivíduo parte do culto, vêm a fase da JUREMAÇÃO onde um pedaço da raiz de Jurema é implantado abaixo da pele.

Uma observação importante, quando tratamos de JUREMA, estamos referindo a uma árvore predominante do nordeste. Não se trata de um “lugar na espiritualidade” ou referência à um guia, mas uma árvore sagrada para as pessoas que cultuam e praticam esses rituais.

O ritual do Catimbó é um tanto quanto diferente da Umbanda, pois nele existe uma mesa ao centro contendo jarras e taças com água, as quais, naquele ritual, indicam as setes chaves ou cidades da Jurema (Passagens).

Não só, mas utilizam o MARACÁ (espécie de chocalho), o uso do Cachimbo de Angico, fumos preparados sobre orientação e uma bebida. Essa bebida não se conhece e não se sabe a receita, pois isso é passado de sacerdote à sacerdote, sendo desconhecida por membros.

Além disso, não existe a figura do corpo mediúnico no Catimbó, já sendo uma grande diferenciação da Umbanda, haja vista que em nosso ritual, o corpo mediúnico é fundamental e alicerce nas estruturas umbandistas.

Assim como comentado acima, não existe no Catimbó o então chamado de Guias ou Mentores Espirituais, mas os denominam como Mestres.

Os Mestres são pessoas que já desencarnaram e que já tiveram sua passagem pelo plano terreno. Quando eles se apresentam, devem narrar toda a sua história de vida, essa que não é contada, mas sim CANTADA. Tal prática podemos ver em alguns terreiros de Umbanda, onde a entidade incorporada em seu médium, passa o “ponto cantado”, o qual, muitas vezes, simboliza a história de vida daquela entidade.

É claro que isso foi sendo abolido aos poucos, pois na Umbanda não importa quem foi o guia quando ainda encarnado, mas a importância vem na missão que ele é encarregado de cumprir.

Assim, como na Umbanda existe o Caboclo Pena Branca, Caboclo Pena Verde, no Catimbó eram denominados como Mestres, ou seja, Mestre Pena Branca e assim sucessivamente.
Podemos dizer “é tudo a mesma coisa”, mas lembre-se: FUNDAMENTO É FUNDAMENTO. 

Embora haja semelhanças, não significa dizer que é “tudo a mesma coisa”. Um tanto confuso, mas devemos enxergar que há fundamentos diferentes entre um e outro.
Entendida a iniciação e a estrutura do ritual, falaremos agora sobre as figuras que rodeiam o Catimbó.

Quem nunca ouviu falar em JOSÉ DE AGUIAR SANTANA? Não? Ou que tal ZÉ PILINTRA? Melhorou, não?

José de Aguiar Santana, o tão conhecido Zé Pilintra, tem suas origens dentro do Catimbó, o qual narra a história de um Pernambucano defensor e propagador da Jurema Sagrada.

Bem diferente da figura que conhecemos, não?

Isso porque a figura de Zé Pilintra malandro ou boêmio que hoje associamos, veio apenas na cidade do Rio de Janeiro/RJ, onde cultua-se o malandro, o boêmio das noites, rei do carteado, galanteador, defensor dos menos favorecidos.

Encontraremos várias histórias associadas ao Sr. Zé Pilintra, uns dizendo que veio do nordeste e ocupou a capital do Rio de Janeiro nas noitadas, mas por hora devemos enquadrar apenas que, no Catimbó a imagem de Zé Pilintra é uma e quando associamos ao Rio de Janeiro ou até mesmo São 
Paulo, surge a imagem de Zé Pilintra Malandro, ligado à boemia.

Essas diferenciações de histórias, os modos e jeitos de se reverenciar Zé Pilintra, deriva do fato de que a figura Zé Pilintra é a mais maleável e flexível possível. Tanto assim o é que, podemos perceber em rituais, a manifestação e incorporação de Zé Pilintra na linha de Baianos, justamente fazendo referência ao Pernambucano saudado no Catimbó, na linha de Pretos Velhos, Exus e Malandros, pois com a associação tida no estado do Rio e São Paulo, torna Zé Pilintra um profundo conhecedor dos mistérios da noite, bem como o “malandrão” das madrugadas.

Assim é que, em determinadas casas de umbanda, existem trabalhos específicos para reverenciar a Malandragem (incorporação de espíritos, muitas vezes boêmios) e também a Zé Pilintra.
Por isso vemos que, em Rodas de Zé Pilintra, existem figuras de Malandros, ligados à boêmia, bem como ao Zé Pilintra sertanejo e o malandro carioca. Isso é diversidade!

Mas não só a figura de José de Aguiar Santana (Zé Pilintra) é cultuado no Catimbó, mas outra figura que, em nossos rituais de Exus e Pomba – Giras é muito reverenciada. No Catimbó cultua-se também MARIA PADILHA, essa que não é associada a uma Pomba- Gira como na Umbanda, mas uma verdadeira mestra dentro do Catimbó.

Segundo sua história narrada no culto, era uma moça de família espanhola e que possuía grande conhecimento em feitiçarias. Esses seus conhecimentos, segundo consta, foi compartilhados aos Juremeiros e Catimbozeiros.

Outra figura e extrema importância no Catimbó é MULANGUINHO, sendo o mestre de maior importância dentro da Jurema. Tal figura não é cultuada na Umbanda.

Para encerrarmos, acrescentamos uma curiosidade. No Catimbó era comum o uso das vestimentas quando o “Catimbozeiro” incorporava o espírito. Essas vestimentas representavam o que o espírito foi em terra, por isso há uma variedade e cada uma com suas particularidades.

Hoje, tal prática, foi herdado pela Umbanda (em certos casos) e também pelo Candomblé.
Então podemos entender que, mesmo antes da existência e da iniciação da umbanda, já haviam rituais que cultuavam os espíritos desencarnados e que contribuíram significativamente para o ritual da Umbanda.

Esses cultos eram conhecidos como JUREMA ou CATIMBÓ. Embora parecidos, notamos que houve um incremento ao longo dos tempos, os quais deram a originalidade e particularidades únicas dos rituais.

Isso é um pouco do culto da Jurema ou Catimbó, onde falo com convicção: SE DA UMBANDA NÃO FOSSE, CERTAMENTE SERIA UM JUREMEIRO!

Deixo alguns links para que acessem e vejam um pouco mais dessa história!



Assistam!

Axé e Saravá!

Pai Igor Luís de Camargo

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