Inicio essa publicação com a seguinte redação da Constituição Federal de 1988, especificamente o artigo 5º, VI:
"Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
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VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias".
Não precisamos ir muito além para entendermos a Norma Legal. Nossa Constituição, dita cidadã, no rol taxativo do artigo 5º, dispõe que o exercício de qualquer doutrina religiosa é LIVRE, fato que nenhum culto será perseguido ou seus direitos cessados como era antigamente.
Vivemos, por óbvio, em um Estado Laico, onde a religião não se torna influente e não mais restringe nenhum tipo de culto ou prática religiosa.
Mas não venho discutir normas ou leis, mas mostrar minha indignação com a falta de conhecimento e a forma com que pessoas vem deturpando as culturas existentes e pouco se importando com o impacto que gerará, seja de prejuízos a determinado culto ou até mesmo de mais ira e revolta por parte da população desinformada e contrária aos cultos africanos.
Recentemente, na cidade de Valinhos/SP, foi aprovado uma lei que proíbe o sacrifício de animais dentro de cultos religiosos, ou seja, religiões de matrizes africanas. Não venho de forma alguma discutir o certo ou errado, mas apenas mostrar que, dentro desse ritual sério, o animal não é descartado em encruzas ou cemitérios.
No Candomblé ou outra ramificação de Culto Africano, os animais utilizados dentro do culto são, muitas vezes, criados nos terreiros, muito bem cuidados e respeitados, pois ali está o axé (força) do Orixá.
É claro que em determinadas ocasiões é inviável a criação dentro do terreiro, mas os compram no mercado LEGAL e, antes do ritual, o animal fica dentro do terreiro sendo zelado e cuidado. O animal que é preparado para o corte, não pode sofrer, seja no momento do ritual ou em sua preparação, por isso o zelo com este.
Mas surge a indagação: "O que é feito como o animal? Para que se utiliza?"
O animal para o candomblé, ou melhor, o sangue do animal simboliza a força vital do Orixá. No momento em que o sangue encosta no orí (cabeça) do médium, ali estaria recebendo o axé do seu Orixá, sendo importante consagrador energético.
Após o corte realizado, algumas partes importantes do animal são retiradas e utilizadas no ritual, como realizar uma oferenda DENTRO DO TERREIRO ou algum tipo de alimento que será consumido pelo médium que passou por aquela liturgia.
O restante do animal é TOTALMENTE UTILIZADO e CONSUMIDO como alimentos, pois para a cultura do Candomblé, todos que se alimentam com a comida realizada a partir daquele animal, estariam ou estão recebendo também o axé de determinado Orixá.
Mas ainda não é o suficiente, pois já vimos ou ouvimos relatos de que, em dado momento e em determinado local, foram encontrados despachos com animais.
Digo, de forma objetiva e certeira: ISSO NÃO É PRÁTICA DA UMBANDA OU CANDOMBLÉ!
Tais despachos que corriqueiramente vemos, muitos utilizando animais, são práticas de MAGIA NEGRA, fatos que não correspondem com a realidade Umbandista ou Candomblecistas.
Terreiros que fazem esses tipos de rituais, JAMAIS podem ser denominados de Umbanda e Candomblé, mas de forma vil e repugnante utilizam o nome de religiões sérias e com fundamentos deturpando totalmente os contextos em que se enquadram, fazendo com que Terreiros sejam alvos de depredação e seus adeptos, de retaliação.
Jamais casas de Umbanda ou Candomblé realizariam tal procedimento, de forma a desrespeitar as leis da natureza e do Eterno Criador. Não entro no mérito para discutir se é certo ou errado, até porque sou Umbandista, conhecedor do Candomblé, mas não faço parte em si desse culto. Aprecio a nobre cultura, a história e seus fundamentos, sempre respeitando.
Acredito que, antes de promulgar qualquer tipo de lei que possa interferir na liberdade de culto, devemos sopesar e conhecer, no mínimo, as vertentes religiosas e suas culturas. Não devemos prejudicar a todos por mero e simples achismo.
Nós, seres humanos, não devemos pautar nossas decisões em "achismos", mas termos convicções próprias e fundamentadas, pois só assim auferimos, com êxito, nossos objetivos e metas. Para todos os casos, situações e momentos devemos utilizar da equidade e senso de justiça.
Será que estamos fazendo uma justiça proibindo o uso de animais em ritual ou prejudicando-os, tendo em vista nossa ignorância nos conceitos e culturas?
É de se pensar!
Ativistas, vegetarianos, dizem ser justiça, mas aqui não entra em jogo as suas escolhas, mas um Direito Fundamental intrínseco ao indivíduo: a liberdade de culto.
Vamos melhor analisar. Não peço para que mudem de opinião, mas utilizem um pouco da sabedoria e pesquisem, deixando convicções religiosas de lado, pois devemos tomar nossas decisões independentemente delas. Não se prendam a seu achismo e aprenda a fundamentar sua opinião sem ser com base em discurso de ódio, a ponto de chamar Candomblecistas e Umbandistas de "adoradores do demônio" ou sugestionando algo, como exemplo "macumbeiros, voltem para África".
Respeite e serás respeitado!
Peço que compartilhem isso, de forma a levar o conhecimento e instigar, o mínimo que seja, o senso de pesquisa.
Oxalá abençoe a todos.
Pai Igor Luís de Camargo
Sacerdote de Umbanda
Coordenador Fiscal do SOI - Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro.
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