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Sacerdote de Umbanda, formado pelo Templo de Umbanda Caboclo Sete Flechas, Ogã formado pelo Templo de Umbanda Cacique Pena Branca, Sócio - Filiado ao Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro e Coordenador Regional do SOI em Amparo/SP

quinta-feira, 23 de junho de 2016

COMPORTAMENTO E ÉTICA UMBANDISTA



Bastante comum em meio a religiosidade Umbandista, tratarmos apenas questões espirituais e litúrgicas, não voltando nossos olhares a situações corriqueiras e que acabam acarretando situações degradantes e desconfortáveis.
Quando lidamos com religião, ainda mais as voltadas à espiritualidade, muito se torna instigante pelo fato do modo com que a trabalhamos, nosso ritual e todo procedimento. Ao sentarmos para adquirirmos aprendizados, muito esperamos apenas magias, métodos ritualísticos e questões voltadas apenas a parte RITUALÍSTICA, mas ficamos estarrecidos quando o Sacerdote aborda conceitos de comportamento e ética.
Pode parecer desnecessário, tendo em vista que, intrinsecamente, todos nós temos uma conduta que, se desvirtuada ou contrariada, nós mesmos nos sentiremos mal, fugindo de nossa Ética e Moral.
Mas se bem observarmos, como encarnados e em busca de evolução espiritual, estamos passíveis a erros e são com eles que aprendemos. É claro que as vezes cometemos os mesmos erros várias vezes, mas cabe a cada um de nós saber entender que compete privativamente a nós darmos um basta, afinal, passa por situações desagradáveis várias vezes quem quer, pois a solução para sair do enrosco, já encontrou.
Outros continuarão nos mesmos passos, podendo perdurar por tempos ou anos, quiçá outras encarnações, pois tudo isso, inerente a missão de cada um, é que vai trazendo a evolução que cada um de nós precisamos.
Abordo isso, prima facie, pois falaremos sobre questões comportamentais dos médiuns e auxiliares dentro do terreiro de umbanda, declinando responsabilidades e obrigações.
Contudo, cumpre destacar que, antes de vestirmos o branco e dirigirmos até os terreiros, existe procedimentos a serem realizados, os quais denominamos de RITUAL INTERNO.
Quando falamos em ritual, imaginamos alguns procedimentos que são diretrizes para realizar algo ou chegarmos em algum objetivo. Voltado a religiosidade, ritual são todos os procedimentos que nos levam a nos “conectar”, nos “ligar” ao sagrado, ao divino.
Assim, imaginemos que, durante a semana conturbada, muito difícil seria nos conectar à espiritualidade quando nossos corações e pensamentos estão desequilibrados ou energeticamente negativados. Sempre precisamos intensificar nossas vibrações e nossas orações para que, aos poucos, toda egrégora negativa formada seja dissipada e quebrada.
Seres humanos, passíveis a erros e sujeitos a situações que nos testam, estamos sempre em uma inconstância. Dara nós que nossas vidas fosse apenas uma linha retilínea sem qualquer embaraço. Verdadeira utopia!
Pois bem!
Antes de chegarmos aos terreiros, realizamos nossos ritual interno, onde intensificamos nossas vibrações, realizamos nossos banhos de ervas, equilibramos nossos eledás (chacras), tudo para que, ao chegarmos no terreiro, possamos nos doar e nos entregar nas vibrações da espiritualidade superior.
Não basta vestirmos uma roupa branca e irmos aos trabalhos com os corações e pensamentos totalmente impregnados com ódio, mágoa, rancor. Devemos, seja umbandista ou não, realizarmos nossa reforma íntima, abdicando de muitas situações, sentimentos que acarretam um mal estar físico, psicológico e espiritual.
Se estamos buscando um aprendizado e sermos melhores a cada dia, nossas atitudes devem ser revistas constantemente, pois só assim alcançaremos e cumpriremos com um pouco de nossa missão.
Então, de forma sábia, já somos conscientes e estamos cientes de que uma roupa branca ou uma incorporação não trará sua purificação. Devemos, antes de qualquer ato, abdicar de algumas situações e nos entregar de copo e alma para aquilo que nos propusemos a realizar.
Salienta-se que a espiritualidade, os guias e mentores espirituais, por mais de alta envergadura de evolução espiritual que estão, utilizam também de nossas energias para auxiliar aos necessitados. Não basta incorporar. Tem que saber se entregar!
Um médium que, por situações “x” que lhe ocasionaram uma certa irritação, jamais deve, naquele dia específico, trabalhar na gira de caridade dando os passes. Por mais amparo que tenha, naquele dia não estava psicologicamente preparado para trabalhar e sua energia carregada negativamente, pode surtir efeitos no corpo espiritual do irmão necessitado.
Parece que basta apenas fechar nossos olhos e incorporar, pois ali a entidade que estará realizando os trabalhos. Porém, sabemos que não é bem assim!
Há uma reciprocidade entre o médium e o mentor espiritual e ambos devem sempre estar em sintonia, nas mesmas vibrações, pois mesmo incorporado, pode o médium sofrer uma queda e começar uma fase de mistificação.
Salienta-se na máxima “Umbanda é coisa séria para gente séria”.
Mostro, de início, a responsabilidade inerente a cada um, principalmente àqueles que trabalham na linhagem de Umbanda ou vertentes espíritas. Devemos sempre nos vigiar, pautar nossas vidas na retidão de bons princípios e atos, pois contrariado, infringimos uma lei espiritual: “Amai ao próximo como a ti mesmo”.
Devemos realizar reformas íntimas em nossos corações, em nossos pensamentos. Devemos saber amar e sermos amados, devemos respeitar, renegar determinadas situações, abdicar de sentimentos errados e renová-los, saber perdoar e reconhecer nossos erros.
Muito apontamos nossos dedos para criticar, para dizer que não gosta de “fulano ou beltrano”, mas jamais procuramos saber se àquele irmão (ã) está com algum problema. É tão mais fácil criticar do que estender a mão amiga.
Por isso devemos nos amar, pois quem tem o amor própria não tem tempo para criticar seu semelhante, mas auxiliá-lo quando necessário.
Ser médium é isso, pois inúmeras vezes seremos chamados para ajudar àqueles que um dia nos fizeram mal, e por óbvio, não poderemos renegar a isso.
Conseguem observar quantas coisas se escondem atrás de um branco, colares e ritualísticas. De nada adianta realizarmos tudo isso, quando na realidade nossa carne está voltada para outras situações ou impregnadas de ódio e falta de amor.
Assim, ter em mente que, se desejamos realmente ajudar e sermos ajudados, muitas coisas precisamos mudar e que sejam internas, voltadas a cada um.
Assim, feito essa reflexão, vestimos o branco para ir ao encontro de nossa religiosidade e dispostos a ajudar àqueles que nos pedem socorro, sejam situações cármicas ou espirituais.
Chegamos ao terreiro, realizamos todos os procedimentos necessários e aguardamos o início de nossos trabalhos.
Por óbvio, tudo deve ter uma hierarquia, a qual devemos observância e obediência. Respeito as regras espirituais e as impostas pelo líder religioso. Se há uma hierarquia, há também cargos e funções, as quais são dotadas de responsabilidades e missões que devem ser cumpridas.
Iniciamos com o sacerdote de umbanda (pai de santo), àquele médium que, por longos e derradeiros anos, foi preparado fisicamente e espiritualmente pela espiritualidade para que conduzisse e cuidasse de outras pessoas.
Ser Sacerdote não é algo fácil ou prazeroso, mas exige uma responsabilidade consigo e para com os outros, tendo em vista que os cuidados dos demais médiuns depende exclusivamente daquele sacerdote.
Exige abdicação de sentimentos, pois este será o mais procurado para socorro e não deverá declinar de ajudar o solicitante. Faz parte de sua missão!
Logo no início disse que devemos realizar uma reforma íntima, saber perdoar e amar. Assim, imaginemos a hipótese de um sacerdote, cujo o qual é espelho e diretriz aos seus filhos espirituais, renega em ajudar e auxiliar seu inimigo, mesmo que de longas datas.
Seria contraditório dizer algo e praticar o inverso ao ensinado. E claro que isso não só compete ao sacerdócio, mas a todos nós, desde ateus a religiosos.
Cumpre ao sacerdote ter o zelo e a responsabilidade com suas condutas, seja dentro ou fora do terreiro, pois ele é o espelho dos demais irmãos. Além dos conhecimentos práticos, magísticos e litúrgicos, deve conhecer a si e aos seus filhos, sabendo orientar, ensinar e corrigir como se ali estivesse a figura de um pai com laços sanguíneos.
Sacerdote deve respeito e merece respeito, pois ele é a autoridade máxima dentro do terreiro, mas também passível a erros e correções quando necessária. Lembre-se: somos de carne e osso!
Em questões de hierarquia carnal temos de início os Pais e Mães, mas tudo tem sua base e logo encontramos como alicerces os médiuns, seja eles novatos ou àqueles que, através do dom mediúnico, ajudam o próximo.
Ser médium também é responsabilidade, mas também gratificação, pois esse dom lhe foi dado para auxilio e ajuda ao seu próximo. Assim como um objeto de porcelana que se não cuidado pode quebrar, a mediunidade também. Se mal utilizada, assim como lhe foi concedido para cumprir uma missão e resgate, ela pode ser retirada.
Médium de Umbanda deve sempre, antes de mais nada, saber suas limitações. Praticar desde o início sua reforma pessoal, crescer e mudar a cada dia, pois é isso que necessitamos, MUDANÇA!
Reconhecer seus erros, reconhecer quando está cometendo algo errado e corrigir sem medo de represálias, pois aí estará a simplicidade e humildade do médium de aprender com seus erros. Não basta apenas ter 30 anos de umbanda, quando em suma realidade internamente não absorveu ou abdicou de coisas que faz com que o nosso perispirito entre em um verdadeiro estado de putrefação.
Deve sempre seguir nas leis divinas, respeitar as orientações espirituais, reconhecer seus erros e saber o momento de agir. Se reconstruir a cada dia e entrar em paz consigo mesmo, renovando suas energias e sua fé.
Médium que se doa pela espiritualidade para ajudar, deve ter em mente que, naquele ato divino, deve esquecer a sacola dos problemas e se abrir de coração, possibilitando a aproximação dos espíritos falangeiros de luz e permitindo que façam um acoplamento de energias nossas e as que irradiam, tudo como forma de ajudar àqueles que chegam até nós.
Desta forma, um médium que passa um dia conturbado, com irritações, certamente não terá uma incorporação por completo e se abusar, transmitirá ao consulente energias não muito firmes, podendo ali gerar graves problemas espirituais.
Saber reconhecer sua inaptidão para trabalho em dias ruins, é ter a ciência que somos seres limitados e ainda ter a humildade de assim saber. É ter, antes de mais nada, amor ao seu semelhante, pois não transmitirá vibrações maléficas e dará ao consulente a oportunidade que seja ajudado de outras formas, com outros guias.
É não ser egocêntrico e o centro das atenções, afinal Umbanda não é espetáculo, mas religião. Médium nenhum pode se achar “o melhor”, pois em sede de espiritualidade todos somos leigos. Temos ciência do básico, mas do máximo, um eterno dilema.
Assim, cabe o médium vigiar seus sentimentos, respeitar seu irmão e amá-lo. Quem ama jamais terá a preocupação de entrar em questões que desagradam ou atém mesmo que te coloquem a beira de um abismo.
Deve sempre estudar, questionar seu dirigente, manter zelo na incorporação, manter sigilo do que é confiado. É claro que o que é confiado é para o guia, mas quando tratamos de mediunidades conscientes, o médium lembrará de tudo. Seria muito ruim e antiético revelar algo que não lhe compete a terceiros.
Consulta-se os guias e jamais o médium.
Lembre-se sempre que somos apenas veículos para que irmãos de luzes se comuniquem e pratiquem a caridade. Não somos mais nada que isso!
Como canais, devemos ter ética e postura durante a gira e até depois dela. Canal que esteja danificado ou poluído, será difícil uma passagem de elementos essenciais a nossa jornada e vida.
E da mesma forma deve se portar àqueles médiuns que, embora não incorporem, auxiliam dentro do ritual. Chamamos de Cambonos (cambones), os quais são de extrema importância, pois auxiliam as entidades incorporadas e ficam atentos quando algo de errado está acontecendo durante a gira.
São eles que prestam auxilio e muitas vezes têm ciência do que se passa com determinado consulente. Ser cambono é RESPONSABILIDADE, assim como todos os demais cargos exigem, e um manto de SEGREDO.
Quando um consulente chega defronte a entidade espiritual, ali expões segredos dos mais diversos tipos que, se necessário, deverá ter uma atuação imediata do guia espiritual. Se solicitado o auxílio do cambono, este deve se doar e ajudar, mas jamais ao término, expor o que estava se passando na vida daquela pessoa.
Olha que situação desconfortável que não geraria.
Não devemos, de forma alguma, espalhar aos quatros cantos do mundo o que se passa dentro de uma gira de umbanda. Assim como devemos mantar nossa “sacola de problemas” em casa para irmos a gira, quando saímos do trabalho umbandista devemos esquecer nossa “sacola religiosa” lá dentro.
Pensa você se um padre ou pastor revelasse todos os segredos que forem lhes confiados no ato da confissão. Certamente geraria um caos. Por qual motivo então na umbanda tem que ser diferente?
Tudo que se passa deve se manter em segredo e esquecido quando não estar mais no terreiro. Somos regidos por uma lei espiritual e uma lei carnal, sendo que podemos sofrer punições quando acometidos em erro.
Nossos comportamentos e atitudes devem ser condizentes com que pregamos. Devemos saber nossa posição e respeitar as hierarquias, regras e até mesmo regras que não foram impostas pelo guia ou pai de santo, mas que a nossa consciência diz.
Se contrariarmos ela, com certeza não deitaremos com a mesma paz anterior que antes. Aliás, já não deitamos confortavelmente, pois somos pecadores. Não sabemos perdoar, não sabemos amar, mas pior seria se fizéssemos algo que prejudica muito mais a terceiro.
Então, os comportamentos e atos dentro da umbanda devem ser seguidos a risca. Em caso de falhas, perdoados seremos, mas consequentemente sofreremos uma reprimenda por termos sidos negligentes, antiéticos e desrespeitosos com a casa em que trabalhamos, com seu dirigente e o pior, com o próprio plano espiritual.
Saiba, amados irmãos, que papel não faz ninguém melhor que o outro, mas são nossos atos que nos tornam diferente de muitos. Por isso, ame, para de criticar, saiba ouvir e olhe para seu próximo como irmão e seu semelhante. Você não é melhor, mas alguém em evolução como todos os demais mortais dessa terra.
Suplico a Olorum que, ao lerem, possam refletir da mensagem que propus trazer aos senhores. Que no novo amanhã, vocês abdiquem de sentimentos e passem a reformular a vida e chegar em um novo fim!

“Amar e ser amado, pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive,
Para vida eterna”.

Oxalá vos abençoe!

Pai Igor Luís de Camargo
Sacerdote de Umbanda e Coordenador Regional do
Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Ogã: Conceito e sua importância para os rituais de Umbanda e Cultos Afro.

Fato intrigante que observamos a cada gira, são os olhares atentos aos Ogãs e Curimbas no momento da abertura dos trabalhos. Todos nós somos impulsionados pela batida do atabaque e os cânticos entoados pelas Curimbas da Casa.

É o que mais nos chama atenção durante o correr da gira, até que em dado momento isso passa, voltando nossos olhos para o momento da incorporação. Já se pegaram fazendo isso?

Não por um acaso, todos nós admiramos àqueles que entoam os cânticos e àqueles que, lindamente, com alma e coração, tiram um belíssimo som dos "tambores de caboclo" (atabaque). Quanto mais entusiasmado e em sintonia estão os ogãs e curimbas, mas nos emocionamos e somos impulsionados por uma vibração fora do comum.

Essas pessoas, muito embora alguns pensam que não possuem grande importância dentro de nosso ritual, são os responsáveis por conduzir toda a carga vibratória de nossa casa, fazendo com que seja ela mais densa ou mais sutil, dependendo do caso. São eles, de forma clara, os responsáveis pelos impulsos de nossos corpos, os quais, dentro do compasso dos pontos, se põe a dançar, trazendo uma sensação de bem estar para dentro de nós e a religação entre o mundo terreno e o espiritual.

Ogã (tratamento aos homens) ou Yadogã (tratamento dado as mulheres), são pessoas de mais alto poder intuitivo dentro de nossos trabalhos; pessoas com mediunidade apurada e com a percepção de energias mais afloradas. São verdadeiros sacerdotes dentro do terreiro, responsáveis pelo equilíbrio e "manutenção" das energias vibracionais dentro dos terreiros no instante da gira.

São pessoas estruturadas e muito bem preparadas, passando por processos de confirmação, coroação ou iniciação (dependendo do culto), tudo para que tenham forças de conduzir os trabalhos dali em diante. São pessoas de confiança do Sacerdote/Dirigente Espiritual, pois são eles que lutarão bravamente no momento em que algo de errado acontecer na casa, devendo ter o zelo e a responsabilidade para quebrar, por exemplo, eventuais demandas que a casa possa sofrer.

Uma vez despreparados, pode levar a casa e todo o corpo mediúnico a beira de um abismo e serem atacados por uma outra carga vibratória, acarretando sérios problemas durante o trabalho. Assim como temos os pontos de segurança dentro do terreiro (tronqueira, casa das almas, peji..), os Ogãs e Curimbas também se encontram com a mesma denominação: São TRONQUEIRAS, ou seja, ponto de segurança do terreiro durante os trabalhos.

Uma vez desestruturados e a casa atingida, toda a corrente mediúnica se quebrará, podendo levar àqueles trabalhadores a um verdadeiro choque vibracional, podendo demorar algumas horas ou dias até se restabelecerem.

Por esse motivo, ogãs e curimbas devem se preparar muito antes de entrar para a corrente, entrando em contato com os mentores espirituais bem antes de chegarem ao centro e assumirem seus postos. É de vital importância esse preceito, para que não sejam instigados por qualquer força alheia que seja prejudicial, bem como possam estar amparados durante os trabalhos e sentirem toda a energia que a casa está movimentando.

Não é apenas saber tocar ou querer tocar. Assim como qualquer outro, ogã e curimba não é àquele que apenas faz um curso, mas àquele que têm o dom e a mediunidade para ser consagrado como tal (até porque o curso não vai simbolizar nada, pois àqueles que não são "escolhidos" não terminarão).
Muitos pensam que Ogã ou Curimba não têm mediunidade pelo fato de não incorporarem, o que é uma leviandade falar, tendo em vista que possuem uma mediunidade diferenciada, a qual fala pelas mãos e pela voz.

Digo isso para desmistificar falsas falácias e fantasias criadas dentro desse contexto, possibilitando maior esclarecimento ao leitor.

Sobre esse aspecto, o próprio nome traduzido da língua iorubá, temos que Ogã ou Yadogã simboliza "o senhor do meu terreiro" ou "a senhora do meu terreiro", nos mostrando de forma clara e objetiva o tratamento e o respeito que temos que ter com essas pessoas, pois se você médium está tendo uma boa incorporação e sentindo boas vibrações, dentro de um contexto, a maior parcela é dada aos Ogãs e Curimbas, que estão dedicados a movimentar todas as energias e segurá-las para que a essência do trabalho não se perca.

Devemos ter o zelo com esses senhores (as), externando nossos sinceros respeitos e considerações, pois sem eles não teríamos, não só a segurança, mas o arrepio de nosso corpo e a alegria transmitida no momento do rufo do tambor.

Saravá Ogã!


Pai Igor Luís de Camargo
Sacerdote de Umbanda e Ogã / Coordenador Regional do SOI

terça-feira, 17 de maio de 2016

Umbanda: O Pronto Socorro - 24 horas.

Gostaria de poder entender o que se passa pela cabeça de cada um, as formas de pensamento, opiniões e convicções, pois em determinados momentos elas se mostram contraditórias e insuscetíveis de credibilidade.
Como umbandista que sou (isso já está mais do que evidenciado), sou costumado ver e ouvir críticas a respeito da minha escolha religiosa. Muitos a criticam sem uma fundamentação, demonstrando a ignorância e o preconceito instalado, outros fundamentam com base com o que ouvem dentro de outros segmentos religiosos e uns tiram suas próprias conclusões, não concordando e nem discordando, mas ficando neutros no assunto.
O que me espanta e me deixa estarrecido, de certo modo, é observar que o desconhecimento é tanto e, revés de procurarem primeiro um esclarecimento e tentar entender que a umbanda é RELIGIÃO, apenas recorrem a FÉ UMBANDISTA quando estão passando por problemas.
Estranho, pois muitas vezes são pessoas que discordam de suas práticas, dizem ser "culto ao demônio", repudiam e insultam seus adeptos. Porém, quando é viável, recorrem a essa "solução" para alívio de seus problemas. Loucura, não?!
Procuro entender, mas não consigo. A complexidade e a perplexidade é tamanha, que não encontro uma reposta para tamanha indagação e indignação.
Parece que fico perdido em meio a isso e, por mais que eu tente dizer para mim mesmo que sei o motivo, ao mesmo tempo me fogem palavras, pensamentos, restando um sentimento de dúvida e simplesmente curiosidade em saber o porquê de tudo isso.
Parece que, pela crendice popular e as falácias que instituem sobre a Umbanda, pensam que somos um PRONTO SOCORRO 24H, onde chegarão com seus problemas, acham que sairão de lá "medicados" e livres das coisas do mundo profano, ou melhor, blindados, achando-se o "super man" e totalmente intocáveis.
Reformulo: é pela crendice popular e falácias que giram em torno de nossa religião que isso ocorre.
Fato mais incontroverso ainda que, se você tem sua fé, sua religião, por que tem que procurar outra para resolver seus problemas?
Não que deixaremos de acolher a quem precisa, mas 99% dos casos que nos chegam, são pessoas que apenas recorrem à Umbanda e a seus médiuns para se "livrarem" de um mal momentâneo e posteriormente retornam no exercício de suas religiões.
Ora, a solução não está na religião, mas sim na sua fé, na sua crença em Deus, na sua forma de agir e pensar. Umbanda não te livra de nada, mas aconselha-os, assim como qualquer outra instituição fará.
Agora, se o que falta é fé e pensamento equilibrado, sinto-lhe informar que nenhuma religião será o suficiente. Devemos ainda lembrar que, muito embora exista a religião (seja ela qual for) para nos confortar, há uma lei que norteia nossa vida desde o momento de nosso nascimento até a nossa morte: LIVRE ARBÍTRIO.
Não devemos esquecer que, tudo o que plantamos será colhido, seja no meio do percurso ou no final dele. Não esqueça que estamos aqui para aprendizado e evolução, sendo primordial que você entenda que enfrentamos nossas turbulências diárias por um fino propósito: aprendizado e amadurecimento.
O que vejo quando recorrem à Umbanda para a "solução dos problemas", são pessoas que querem encontrar maneiras hábeis e fáceis para escapar de situações indesejáveis sem sequer lutar. Isso é merecer?
Pois bem, garanto que em UMBANDA você não encontrará isso.
Assim como qualquer outra religião, nossa missão e função é trazer o ser humano para perto do sagrado, devendo ele conduzir sua vida nos princípios intrínsecos à doutrina religiosa e a palavra divina.
Não é porque acham que Umbanda é baderna e pronto socorro para momentos apenas quando precisam, que não tenhamos ética, moral e princípios.
Antes de qualquer coisa, não deixe que te tolham de buscar o conhecimento. Busque-o e conheça outras vertentes, ou melhor, respeite-as!
A solução está em cada um de nós e não na forma que cultuamos à Deus. Temos métodos diferentes de praticar a fé, mas que seguem princípios religiosos de amor, perseverança, caridade e PACIÊNCIA!
Ensinamos isso e não métodos para você se esquivar ou se livrar de enroscos.

Pai Igor Luís de Camargo

terça-feira, 3 de maio de 2016

Ritual do Bate Cabeça

Pouco há de se falar a respeito desse ritual, mas você conhece-o? Sabe sua origem?

Pois bem!

Sabemos que a umbanda provém dos cultos afros. Recebemos, de forma certeira, a interferência do Cristianismo, Indianismo, Kardecismo e, principalmente, do Africanismo.
Na época em que os escravos foram trazidos ao solo pátrio, encontraram dificuldades em professar a fé que carregavam; estavam impossibilitados de cultuarem os Orixás.

Tal fato ocorrera, pois a Igreja Católica era muito forte e influente na sociedade, os quais consideravam essas práticas como obras de bruxaria ou magia negra.

Encontraram, então, uma forma de professarem sua fé sem que fossem apanhados ou castigados, sincretizando seus Orixás com as imagens de santos católicos (daí provém o sincretismo religioso).

Até então, sem grande novidades.

Porém, mesmo encontrando uma forma de cultuarem seus Orixás, utilizando-se do catolicismo para isso, alguns rituais e tradições foram mantidas. Dentro das imagens dos santos, os negros colocavam uma simbologia do orixá (geralmente o Otá - pedra), o qual representava o Axé do Orixá, ou seja, a sua força.

Há alguns casos que, revés de introduzirem os Otás diretamente nas imagens, os colocavam enterrados ao solo, também representando a força e a vitalidade do Orixá.

Assim sendo, antes de iniciarem seus cultos, era comum que encostassem suas cabeças no chão em forma de reverência àquela força, em forma de respeito e devoção, além de ser uma forma de receber as energias benevolentes.

Tal prática é conhecida como o "Bate Cabeça". Esse ritual permanece até os dias atuais, onde os filhos de fé deitam com o corpo estirado no chão, encostam suas cabeças no solo e ali fazem suas reverências aos Orixás, Guias e Protetores, bem como simbolizando o respeito ao sacerdote/sacerdotisa ali presente.

Naquele momento, realizam suas preces dirigidas à Espiritualidade, pedindo a permissão para pisar em solo sagrada, suplicando que sejamos assistidos pelo astral superior, agradecendo as múltiplas dádivas que recebemos e etc.

Geralmente os médiuns deitam-se sobre esteiras (geralmente de palhas), as quais ficam localizadas no meio do abaçá (local onde se realiza o culto), pois ali, comumente, está a firmeza e assentamento do orixá que rege àquele templo de Umbanda.

Simples, de fácil entendimento, porém com grande fundamento e importância dentro do ritual.

Assim surgiu o ritual do "Bate Cabeça", o qual permanece até os dias atuais.

Axé a todos!

Pai Igor



quarta-feira, 27 de abril de 2016

Coordenadoria Fiscal do SOI em Amparo/SP

Caríssimos irmãos,

O Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro, instituição máxima da Umbanda no Brasil e Internacionalmente, tem por finalidade a regularização das casas de Umbanda, Ylês, Tendas, etc., dando-lhes todo o respaldo litúrgico e jurídico para o exercício da fé.

Atualmente o SOI se encontra espalhado por vários cantos do Brasil, onde, em cada Estado, há sua representação. Não diferente, atualmente na região de Amparo/SP, o SOI se faz presente e aumentando o número de filiados na cidade.

Você, que é da região de Amparo e está procurando uma maneira de regularizar sua casa, conheça o trabalho do SOI.

Entre em contato com o Coordenador Fiscal e também Associado ao SOI pelo e-mail: soi.coordenacaoamparo@gmail.com

Ou através do site http://www.vozdosorixas.com.br/index.php 

Pai Igor Luís de Camargo

terça-feira, 26 de abril de 2016

O SACRFÍCIO DE ANIMAIS

Caríssimos irmãos e leitores do Doutrina de Umbanda,

Inicio essa publicação com a seguinte redação da Constituição Federal de 1988, especificamente o artigo 5º, VI:

"Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

...........................................................
............................................................

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias".

Não precisamos ir muito além para entendermos a Norma Legal. Nossa Constituição, dita cidadã, no rol taxativo do artigo 5º, dispõe que o exercício de qualquer doutrina religiosa é LIVRE, fato que nenhum culto será perseguido ou seus direitos cessados como era antigamente.
Vivemos, por óbvio, em um Estado Laico, onde a religião não se torna influente e não mais restringe nenhum tipo de culto ou prática religiosa.

Mas não venho discutir normas ou leis, mas mostrar minha indignação com a falta de conhecimento e a forma com que pessoas vem deturpando as culturas existentes e pouco se importando com o impacto que gerará, seja de prejuízos a determinado culto ou até mesmo de mais ira e revolta por parte da população desinformada e contrária aos cultos africanos.

Recentemente, na cidade de Valinhos/SP, foi aprovado uma lei que proíbe o sacrifício de animais dentro de cultos religiosos, ou seja, religiões de matrizes africanas. Não venho de forma alguma discutir o certo ou errado, mas apenas mostrar que, dentro desse ritual sério, o animal não é descartado em encruzas ou cemitérios.

No Candomblé ou outra ramificação de Culto Africano, os animais utilizados dentro do culto são, muitas vezes, criados nos terreiros, muito bem cuidados e respeitados, pois ali está o axé (força) do Orixá. 

É claro que em determinadas ocasiões é inviável a criação dentro do terreiro, mas os compram no mercado LEGAL e, antes do ritual, o animal fica dentro do terreiro sendo zelado e cuidado. O animal que é preparado para o corte, não pode sofrer, seja no momento do ritual ou em sua preparação, por isso o zelo com este.

Mas surge a indagação: "O que é feito como o animal? Para que se utiliza?"

O animal para o candomblé, ou melhor, o sangue do animal simboliza a força vital do Orixá. No momento em que o sangue encosta no orí (cabeça) do médium, ali estaria recebendo o axé do seu Orixá, sendo importante consagrador energético. 

Após o corte realizado, algumas partes importantes do animal são retiradas e utilizadas no ritual, como realizar uma oferenda DENTRO DO TERREIRO ou algum tipo de alimento que será consumido pelo médium que passou por aquela liturgia. 

O restante do animal é TOTALMENTE UTILIZADO e CONSUMIDO como alimentos, pois para a cultura do Candomblé, todos que se alimentam com a comida realizada a partir daquele animal, estariam ou estão recebendo também o axé de determinado Orixá.

Mas ainda não é o suficiente, pois já vimos ou ouvimos relatos de que, em dado momento e em determinado local, foram encontrados despachos com animais.

Digo, de forma objetiva e certeira: ISSO NÃO É PRÁTICA DA UMBANDA OU CANDOMBLÉ!

Tais despachos que corriqueiramente vemos, muitos utilizando animais, são práticas de MAGIA NEGRA, fatos que não correspondem com a realidade Umbandista ou Candomblecistas. 
Terreiros que fazem esses tipos de rituais, JAMAIS podem ser denominados de Umbanda e Candomblé, mas de forma vil e repugnante utilizam o nome de religiões sérias e com fundamentos deturpando totalmente os contextos em que se enquadram, fazendo com que Terreiros sejam alvos de depredação e seus adeptos, de retaliação.

Jamais casas de Umbanda ou Candomblé realizariam tal procedimento, de forma a desrespeitar as leis da natureza e do Eterno Criador. Não entro no mérito para discutir se é certo ou errado, até porque sou Umbandista, conhecedor do Candomblé, mas não faço parte em si desse culto. Aprecio a nobre cultura, a história e seus fundamentos, sempre respeitando.

Acredito que, antes de promulgar qualquer tipo de lei que possa interferir na liberdade de culto, devemos sopesar e conhecer, no mínimo, as vertentes religiosas e suas culturas. Não devemos prejudicar a todos por mero e simples achismo.

Nós, seres humanos, não devemos pautar nossas decisões em "achismos", mas termos convicções próprias e fundamentadas, pois só assim auferimos, com êxito, nossos objetivos e metas. Para todos os casos, situações e momentos devemos utilizar da equidade e senso de justiça.

Será que estamos fazendo uma justiça proibindo o uso de animais em ritual ou prejudicando-os, tendo em vista nossa ignorância nos conceitos e culturas?

É de se pensar!

Ativistas, vegetarianos, dizem ser justiça, mas aqui não entra em jogo as suas escolhas, mas um Direito Fundamental intrínseco ao indivíduo: a liberdade de culto.

Vamos melhor analisar. Não peço para que mudem de opinião, mas utilizem um pouco da sabedoria e pesquisem, deixando convicções religiosas de lado, pois devemos tomar nossas decisões independentemente delas. Não se prendam a seu achismo e aprenda a fundamentar sua opinião sem ser com base em discurso de ódio, a ponto de chamar Candomblecistas e Umbandistas de "adoradores do demônio" ou sugestionando algo, como exemplo "macumbeiros, voltem para África".

Respeite e serás respeitado!

Peço que compartilhem isso, de forma a levar o conhecimento e instigar, o mínimo que seja, o senso de pesquisa.

Oxalá abençoe a todos.

Pai Igor Luís de Camargo 
Sacerdote de Umbanda
Coordenador Fiscal do SOI - Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro.




segunda-feira, 25 de abril de 2016

RITUAL DE JUREMA E CATIMBÓ



Hoje versaremos sobre um tema diferenciado, mas com total ligação à Umbanda e a manifestações dos guias espirituais. Embora muito vasta a história da Umbanda, vamos tratar um pouco das influências que estão contidas no ritual.

Embora passado despercebido ou então pouco conhecido, no ritual da umbanda possuímos aspectos que, muitas vezes, são de cultos diferenciados e distintos. Quando falamos nos pontos cantados, quem nunca ouviu o tradicional ponto de abertura: “vou abrir minha Jurema, vou abrir meu Juremá” ou talvez quando tratamos de pontos de defumação: “defuma com as ervas da Jurema, defuma com arruda e guiné”.

Detalhes que muitas vezes não pensamos ou até imaginamos o que seja, mas quando sabemos do fundamento, sempre uma grande revelação.

Pois então vamos começar com o Ritual de Jurema Sagrada.

Quando falamos no ponto de abertura “vou abrir minha Jurema” ou até mesmo no ponto de defumação “defuma com as ervas da Jurema”, estamos fazendo reverência ao Ritual de Jurema Sagrada que, até os dias atuais, se cultua em alguns estados.

Trata-se de um culto brasileiro que já trabalhava com a espiritualidade, havendo a incorporação de Caboclos, Pretos Velhos, e outras entidades que hoje trabalham também na linha de Umbanda. Esse culto existe bem antes da Umbanda ser anunciada e iniciada em solo brasileiro.

O Culto de Jurema trata-se de um culto que voltava-se para a PAJELANÇA, remetendo-nos a figura do índio.

Para tanto, existem duas formas de Pajelança que foram realizadas: 

 PAJELANÇA TRADICIONAL 
 PAJELANÇA CABOCLO
A primeira (Tradicional) reflete o ritual puro, o qual não sofreu interferências externas ou teve alterações no seu ritual. Refere-se ao culto praticado pelos índios nativos sem haver a influência europeia.

Nessa esteia, podemos ver que há um liame entre o culto puro indígena (Pajelança Tradicional) com a representatividade do Caboclo que trabalha dentro do ritual Umbandista.

Depois, com a interferência da cultura europeia e a vinda dos africanos ao Brasil, o ritual de Jurema sofreu alterações, não mais se tratando de culto puro indígena. A Pajelança Caboclo trata-se da mistura entre o ritual indígena e a influência externa provinda com os europeus e os negros africanos.

O que devemos saber que, antes de existir o ritual de umbanda, existia o culto de Jurema onde a incorporação de entidades que hoje trabalham na umbanda, já era praticada, sempre de forma voltada ao ritual indígena.

Após essas interferências sofridas, a qual deram origem a Pajelança Caboclo, surgiu a Encantaria Brasileira, esta que cultuavam espíritos que desencarnaram, mas que se tornaram seres divinos.
Esse tipo de prática foi estendida pelo solo carioca (Rio de Janeiro) e o solo paulista (São Paulo), esta que misturava a Pajelança oriunda dos cultos indígenas (manifestação do índio/caboclo), o culto aos Orixás (trazida pelos africanos) e a Magia Europeia, a qual trouxe os feitiços e encantarias que eram realizados aos redores da Europa.

Tais práticas ficaram conhecidas como QUIMBANDA ou MACUMBA. Claro que o termo utilizado para denominar essas Encantarias, na atualidade, são utilizadas de forma pejorativa, a fim de denigrir a imagem dos cultos africanos.

Em breve faremos uma síntese nas diferenças entre QUIMBANDA, CANDOMBLÉ, UMBANDA e QUIUMBANDA, onde mostraremos de forma clara que os termos são utilizados de forma incorreta.
Mas por ora, deixamos claro que QUIMBANDA ou MACUMBA são práticas relacionadas a feitiçarias e magias, mas que não estão ligadas à prática de magia negra. Isso é outro culto que não podemos associar como benéfica!

Desta forma, percebemos que a Umbanda é um misto de culturas, mas algumas vezes conhecemos o básico envolvente (cultura do negro africano, sincretismos..) e desconhecemos outras culturas que interferiram direta ou indiretamente na nossa religião.

Depois do Culto de Jurema, veio também o CATIMBÓ, culto do Nordeste Brasileiro que possui algumas diferenças do Ritual de Jurema. Embora na sua estrutura muito parecidos, até por conta de nomes ou práticas que são semelhantes, são práticas distintas.

Há quem diga que Jurema e Catimbó é a mesma coisa, mas uma remete ao Culto Indígena e outro com práticas e métodos distintos.

A palavra Catimbó possui vários significados, mas o que muitos lecionam e agora de forma majoritária, dizem que CATIMBÓ provém de cat (fogo) + timbó (erva, mato), o que na junção fica FOGO NO MATO.

Isso porquê o Catimbó faz o uso de muitas ervas em seu ritual, algumas vezes arruda e guiné, também utilizando o Cachimbo de Angico ou Cachimbo de Jurema onde as ervas eram colocadas.

Trata-se de um ritual que, muito embora cultuando os guias espirituais que, na tradição do Catimbó são denominados de MESTRES, possui uma grande interferência do Cristianismo (imagens dos santos, as rezas, terços) e também a influência do Catolicismo, quando nos remete ao lembrar do batismo dos índios.

Vejamos, dessa forma, que foi uma adaptação do Ritual de Jurema, onde, em primeiro momento, era o culto dos índios sem qualquer influência de outra cultura (Pajelança Tradicional), mas que foi alterada após a vinda dos Europeus e Africanos, os quais trouxeram novas culturas ligadas à religiosidade, surgindo a Pajelança Caboclo.

Por óbvio, o Catimbó herdou toda essa cultura da Jurema, principalmente no que tange a Pajelança Caboclo, fato que corrobora com a diversidade dentro do culto Catimbó.

No ritual, os “Juremeiros” ou “Catimbozeiros”, possuem os padrinhos espirituais que, na oportunidade são Santo Antônio e Nossa Senhora do Carmo. Aqui podemos ver nitidamente a presença do Catolicismo, quando colocam como padrinhos do ritual santos católicos.

Mas nem por isso perde a sua identidade!

Para que se faça parte do Culto de Catimbó, o adepto necessita passar por alguns processos/etapas iniciatórias.  

JURAMENTO  
TOMBO 
JUREMAÇÃO
Assim como toda doutrina religiosa, existe dentro do Catimbó o JURAMENTO, onde nesse momento o iniciante recebe como presente o Cachimbo de Angico / Jurema muito utilizado no ritual.

Passado a fase do juramento, a etapa seguinte é denominada de TOMBO, fase em que o iniciante deve relatar um sonho tido como o MESTRE (guia espiritual) e posteriormente realizar uma oferenda à ele

Por último, a fim de tornar aquele indivíduo parte do culto, vêm a fase da JUREMAÇÃO onde um pedaço da raiz de Jurema é implantado abaixo da pele.

Uma observação importante, quando tratamos de JUREMA, estamos referindo a uma árvore predominante do nordeste. Não se trata de um “lugar na espiritualidade” ou referência à um guia, mas uma árvore sagrada para as pessoas que cultuam e praticam esses rituais.

O ritual do Catimbó é um tanto quanto diferente da Umbanda, pois nele existe uma mesa ao centro contendo jarras e taças com água, as quais, naquele ritual, indicam as setes chaves ou cidades da Jurema (Passagens).

Não só, mas utilizam o MARACÁ (espécie de chocalho), o uso do Cachimbo de Angico, fumos preparados sobre orientação e uma bebida. Essa bebida não se conhece e não se sabe a receita, pois isso é passado de sacerdote à sacerdote, sendo desconhecida por membros.

Além disso, não existe a figura do corpo mediúnico no Catimbó, já sendo uma grande diferenciação da Umbanda, haja vista que em nosso ritual, o corpo mediúnico é fundamental e alicerce nas estruturas umbandistas.

Assim como comentado acima, não existe no Catimbó o então chamado de Guias ou Mentores Espirituais, mas os denominam como Mestres.

Os Mestres são pessoas que já desencarnaram e que já tiveram sua passagem pelo plano terreno. Quando eles se apresentam, devem narrar toda a sua história de vida, essa que não é contada, mas sim CANTADA. Tal prática podemos ver em alguns terreiros de Umbanda, onde a entidade incorporada em seu médium, passa o “ponto cantado”, o qual, muitas vezes, simboliza a história de vida daquela entidade.

É claro que isso foi sendo abolido aos poucos, pois na Umbanda não importa quem foi o guia quando ainda encarnado, mas a importância vem na missão que ele é encarregado de cumprir.

Assim, como na Umbanda existe o Caboclo Pena Branca, Caboclo Pena Verde, no Catimbó eram denominados como Mestres, ou seja, Mestre Pena Branca e assim sucessivamente.
Podemos dizer “é tudo a mesma coisa”, mas lembre-se: FUNDAMENTO É FUNDAMENTO. 

Embora haja semelhanças, não significa dizer que é “tudo a mesma coisa”. Um tanto confuso, mas devemos enxergar que há fundamentos diferentes entre um e outro.
Entendida a iniciação e a estrutura do ritual, falaremos agora sobre as figuras que rodeiam o Catimbó.

Quem nunca ouviu falar em JOSÉ DE AGUIAR SANTANA? Não? Ou que tal ZÉ PILINTRA? Melhorou, não?

José de Aguiar Santana, o tão conhecido Zé Pilintra, tem suas origens dentro do Catimbó, o qual narra a história de um Pernambucano defensor e propagador da Jurema Sagrada.

Bem diferente da figura que conhecemos, não?

Isso porque a figura de Zé Pilintra malandro ou boêmio que hoje associamos, veio apenas na cidade do Rio de Janeiro/RJ, onde cultua-se o malandro, o boêmio das noites, rei do carteado, galanteador, defensor dos menos favorecidos.

Encontraremos várias histórias associadas ao Sr. Zé Pilintra, uns dizendo que veio do nordeste e ocupou a capital do Rio de Janeiro nas noitadas, mas por hora devemos enquadrar apenas que, no Catimbó a imagem de Zé Pilintra é uma e quando associamos ao Rio de Janeiro ou até mesmo São 
Paulo, surge a imagem de Zé Pilintra Malandro, ligado à boemia.

Essas diferenciações de histórias, os modos e jeitos de se reverenciar Zé Pilintra, deriva do fato de que a figura Zé Pilintra é a mais maleável e flexível possível. Tanto assim o é que, podemos perceber em rituais, a manifestação e incorporação de Zé Pilintra na linha de Baianos, justamente fazendo referência ao Pernambucano saudado no Catimbó, na linha de Pretos Velhos, Exus e Malandros, pois com a associação tida no estado do Rio e São Paulo, torna Zé Pilintra um profundo conhecedor dos mistérios da noite, bem como o “malandrão” das madrugadas.

Assim é que, em determinadas casas de umbanda, existem trabalhos específicos para reverenciar a Malandragem (incorporação de espíritos, muitas vezes boêmios) e também a Zé Pilintra.
Por isso vemos que, em Rodas de Zé Pilintra, existem figuras de Malandros, ligados à boêmia, bem como ao Zé Pilintra sertanejo e o malandro carioca. Isso é diversidade!

Mas não só a figura de José de Aguiar Santana (Zé Pilintra) é cultuado no Catimbó, mas outra figura que, em nossos rituais de Exus e Pomba – Giras é muito reverenciada. No Catimbó cultua-se também MARIA PADILHA, essa que não é associada a uma Pomba- Gira como na Umbanda, mas uma verdadeira mestra dentro do Catimbó.

Segundo sua história narrada no culto, era uma moça de família espanhola e que possuía grande conhecimento em feitiçarias. Esses seus conhecimentos, segundo consta, foi compartilhados aos Juremeiros e Catimbozeiros.

Outra figura e extrema importância no Catimbó é MULANGUINHO, sendo o mestre de maior importância dentro da Jurema. Tal figura não é cultuada na Umbanda.

Para encerrarmos, acrescentamos uma curiosidade. No Catimbó era comum o uso das vestimentas quando o “Catimbozeiro” incorporava o espírito. Essas vestimentas representavam o que o espírito foi em terra, por isso há uma variedade e cada uma com suas particularidades.

Hoje, tal prática, foi herdado pela Umbanda (em certos casos) e também pelo Candomblé.
Então podemos entender que, mesmo antes da existência e da iniciação da umbanda, já haviam rituais que cultuavam os espíritos desencarnados e que contribuíram significativamente para o ritual da Umbanda.

Esses cultos eram conhecidos como JUREMA ou CATIMBÓ. Embora parecidos, notamos que houve um incremento ao longo dos tempos, os quais deram a originalidade e particularidades únicas dos rituais.

Isso é um pouco do culto da Jurema ou Catimbó, onde falo com convicção: SE DA UMBANDA NÃO FOSSE, CERTAMENTE SERIA UM JUREMEIRO!

Deixo alguns links para que acessem e vejam um pouco mais dessa história!



Assistam!

Axé e Saravá!

Pai Igor Luís de Camargo