Continuando nossos estudos referente a história da Umbanda, falaremos
hoje sobre a Incorporação do Orixá Malê. Já nos aproximando do dia 23
de Abril, data em que se celebra o Dia de Ogum, pertinente também se faz
essa explanação.
Como abordado na História da Umbanda 1, falamos que essa foi
anunciada no dia 15 de Novembro de 1908 pela espiritualidade através da
mediunidade de um jovem de 17 anos chamado Zélio Fernandino de Moraes.
Essa anunciação veio através do Caboclo Sete Encruzilhadas que, em
encarnações passadas, foi um frei queimado na fogueira da santa
inquisição por prever o terremoto em Lisboa. Seu nome era Frei Gabriel
de Malagrida.
Abordamos também que, muito embora sua anunciação ocorrera no dia 15
de Novembro, o primeiro culto se deu no dia seguinte (16 de Novembro de
1908) na casa de Zélio, onde manifestou-se espíritos que seriam os
pioneiros a conduzirem a umbanda sagrada. São eles: Caboclo Sete
Encruzilhadas, o qual falou a todos o que era a Umbanda, ditou suas
regras e fundamentos.
Posteriormente, a incorporação de Pai Antônio, um
Preto Velho que vem ensinando a simplicidade e a humildade que a umbanda
pregaria, bem como a não renegação de nenhum espírito ou irmão.
Ainda, Pai Antônio inicia o uso de elementos (fumo, bebida,
oferendas), bem como traz para dentro da umbanda a Devoção aos Orixás.
Árduo e contínuo trabalho, no ano de 1913, cinco anos após a
anunciação e iniciação dos cultos Umbandistas, Zélio foi dominado por
uma força que não a do Caboclo Sete Encruzilhadas, tampouco de Pai
Antônio.
Era uma vibração de um espírito forte e valente, que se apresentara
como Orixá Malê, um espírito, ou melhor, um guia espiritual que
representava a força do Guerreiro Ogum.
Muito embora denominado de Orixá Malê, não tratava-se de um Orixá
como comumente estamos acostumados a dizer ou associar, mas um guia
espiritual que, irradiado na força de Ogum, senhor das demandas e das
batalhas, vinha realizar trabalhos até então desconhecidos e não ditos
anteriormente.
Orixá Malê, sendo um Caboclo de Ogum, era rígido e um pouco rude. Não
aceitava o errado e exigia que todos seguissem firmemente a doutrina
empregada na umbanda.
Este guia espiritual inicia um nobre trabalho dentro dos cultos da
Umbanda. Através de sua força, Malê vêm para desmanchar feitiços e obras
de Magia Negra, além de ser especialista na arte da cura.
Tanto assim o é, que as curas realizadas pelo Orixá Malê são contadas
de forma afirmativa por Leal de Souza, este que era incrédulo e
estudioso da Umbanda.
Para que naquela época a umbanda ganhasse força e credibilidade,
Orixá Malê utilizava-se de muitas provas, mostrando a todos que ele
realmente estaria lá e a espiritualidade não era apenas uma fantasia.
Para relatos, exemplifico com a História da Borboleta Amarela.
Em uma sessão da casa (Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade), Leal
de Souza, na tentativa de obter provas da existência da
espiritualidade, estava sentado assistindo aos trabalhos.
Em dado momento, Orixá Malê incorporado em Zélio Fernandino de
Moraes, já sabendo que Leal estava ali para obter respostas sobre esses
assuntos “paranormais”, disse a esse: “Está vendo essa borboleta amarela
que acabara de entrar nesse recinto?. Pois bem, já que queres uma prova
de minha existência, amanhã, após chegar em seu trabalho, essa mesma
borboleta amarela fará uma visita à você”.
Leal de Souza, confuso com que o Orixá Malê relatara, não deu muita
importância. No dia seguinte, levantou e seguiu até seu local de
trabalho, já não lembrando o que Malê havia lhe dito no dia anterior.
Após minutos de labuta, eis que entra uma borboleta amarela em seu local de serviço e pousa bem em cima de seu ombro.
Para sua surpresa, uma prova da existência da espiritualidade havia
acabado de acontecer. Daquele momento em diante, Leal de Souza deixa de
ser um mero estudioso e curioso, e torna-se adepto a
Umbanda, vindo,
posteriormente, assumir a direção da Tenda Espírita Nossa Senhora da
Conceição.
Isso é apenas uma das provas realizadas pelo Orixá Malê, além de inúmeras curas que realizou aos enfermos e necessitados.
Pois bem. Continuando nossa jornada sobre a história de Malê,
interessante abordar que, na suas práticas de cura, Orixá Malê
utilizava-se de ANIMAL VIVO.
Destaco e enfatizo o Animal Vivo, pois contrário do que muito se fala
que a Umbanda lida com sacrifício de animais, fato que é mentira, o
animal era utilizado como fonte de cura, onde Orixá Malê passa-o entre o
corpo do consulente (necessitado) e o dispensava VIVO na natureza.
A umbanda é respeito à natureza e de tudo que dela provém. Desta
forma, não se faz jus e nexo o sacrifício de animais (respeitando
culturas que assim o faz, mas que não são práticas da Umbanda).
Soltando o animal vivo a natureza, Orixá Malê realizava a cura
naquele que passava por esse procedimento. Hoje não é muito visto esse
procedimento, mas é um relato e fato que, em início, foi muito
praticado.
Atualmente, muitas casas de Umbanda realizam trabalhos externos no
próprio ponto do Orixá (praias, matas, encruzas, cachoeiras). Aliás, já
se tornou praxe das casas realizarem seus rituais no ponto de força para
melhor energizar e reequilibrar seus filhos espirituais.
Tal prática se dá, pois Orixá Malê, já vendo a necessidade, ORDENOU
que esses trabalhos fossem feitos por adeptos a Umbanda. Eis que surge,
então, os trabalhos nos pontos de forças dos Orixás, para que haja,
naquele momento, maior ligação entre o encarnado e a espiritualidade.
Interessante, pois vemos que não se trata de “mero querer” do
dirigente espiritual. Como diz a celebre frase: “Umbanda tem
Fundamentos”. Tanto assim o é que, há um fundamento/explicação para tudo
que se realiza dentro dos rituais umbandistas. Nada é inventado, mas
sim solicitado pela espiritualidade maior.
Além disso, como instituído por Pai Antônio, iniciou-se a realização
de oferendas. Já nas tradições que hoje seguimos, temos o costume de,
muitas vezes, não só ofertar frutas aos Orixás, mas também comidas
típicas.
Para Ogum, ofertamos a famosa FEIJOADA, que segundo lendas provindas
do Candomblé, era a comida de Ogum. Só que vale ressaltar que, tal
oferenda, também foi solicitada pelo Orixá Malê, como forma de oferendar
a Ogum.
Desta forma, surge a oferenda da feijoada à Ogum nos cultos da
Umbanda. Não se estranha que casas de Umbanda assim o fazem, pois não se
trata mais de apenas tradição do Candomblé, mas uma solicitação do
Orixá Malê que marcou a história da Umbanda.
Vimos, então, já na parte 2 de nossa História, a manifestação de um
outro espírito que muito acrescentou nos nossos rituais e contribuiu
para a evolução da Umbanda Sagrada.
Trata-se de Orixá Malê, Caboclo mensageiro de Ogum, com finalidades
de quebrar demandas, desmanchar magias negras e também a arte de curar
as enfermidades físicas e espirituais.
Guia de luz e de batalha, que simboliza a força do guerreiro e a
temperança de nossos sentimentos, nos ensinando a lidar com a “guerra”
diária, a qual hoje não combatemos com armas de fogo ou lanças, mas
através da fé e sentimentos arrematadores, como o amor e o perdão.
Eis a história de Orixá Malê e, desta forma, saúdo o Orixá Ogum,
senhor dos caminhos, que no dia 23 de Abril, comemoramos seu dia.
Saravá Ogum!
Saravá Orixá Malê!
Patakori Ogunhê, meu Pai!
Pai Igor Luís de Camargo
O blog Doutrina Umbandista tem como objetivo levar o conhecimento do Culto da Umbanda a seus adeptos e simpatizantes, além de ser uma forma de divulgar a doutrina àqueles que pouco conhecem nosso ritual.
Quem sou eu
- Doutrina Umbandista
- Sacerdote de Umbanda, formado pelo Templo de Umbanda Caboclo Sete Flechas, Ogã formado pelo Templo de Umbanda Cacique Pena Branca, Sócio - Filiado ao Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro e Coordenador Regional do SOI em Amparo/SP
Muito bom, gostaria de ter acesso a outra explicações e explanações, por favor.
ResponderExcluirMuito boa explicação
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