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Sacerdote de Umbanda, formado pelo Templo de Umbanda Caboclo Sete Flechas, Ogã formado pelo Templo de Umbanda Cacique Pena Branca, Sócio - Filiado ao Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro e Coordenador Regional do SOI em Amparo/SP

quinta-feira, 23 de junho de 2016

COMPORTAMENTO E ÉTICA UMBANDISTA



Bastante comum em meio a religiosidade Umbandista, tratarmos apenas questões espirituais e litúrgicas, não voltando nossos olhares a situações corriqueiras e que acabam acarretando situações degradantes e desconfortáveis.
Quando lidamos com religião, ainda mais as voltadas à espiritualidade, muito se torna instigante pelo fato do modo com que a trabalhamos, nosso ritual e todo procedimento. Ao sentarmos para adquirirmos aprendizados, muito esperamos apenas magias, métodos ritualísticos e questões voltadas apenas a parte RITUALÍSTICA, mas ficamos estarrecidos quando o Sacerdote aborda conceitos de comportamento e ética.
Pode parecer desnecessário, tendo em vista que, intrinsecamente, todos nós temos uma conduta que, se desvirtuada ou contrariada, nós mesmos nos sentiremos mal, fugindo de nossa Ética e Moral.
Mas se bem observarmos, como encarnados e em busca de evolução espiritual, estamos passíveis a erros e são com eles que aprendemos. É claro que as vezes cometemos os mesmos erros várias vezes, mas cabe a cada um de nós saber entender que compete privativamente a nós darmos um basta, afinal, passa por situações desagradáveis várias vezes quem quer, pois a solução para sair do enrosco, já encontrou.
Outros continuarão nos mesmos passos, podendo perdurar por tempos ou anos, quiçá outras encarnações, pois tudo isso, inerente a missão de cada um, é que vai trazendo a evolução que cada um de nós precisamos.
Abordo isso, prima facie, pois falaremos sobre questões comportamentais dos médiuns e auxiliares dentro do terreiro de umbanda, declinando responsabilidades e obrigações.
Contudo, cumpre destacar que, antes de vestirmos o branco e dirigirmos até os terreiros, existe procedimentos a serem realizados, os quais denominamos de RITUAL INTERNO.
Quando falamos em ritual, imaginamos alguns procedimentos que são diretrizes para realizar algo ou chegarmos em algum objetivo. Voltado a religiosidade, ritual são todos os procedimentos que nos levam a nos “conectar”, nos “ligar” ao sagrado, ao divino.
Assim, imaginemos que, durante a semana conturbada, muito difícil seria nos conectar à espiritualidade quando nossos corações e pensamentos estão desequilibrados ou energeticamente negativados. Sempre precisamos intensificar nossas vibrações e nossas orações para que, aos poucos, toda egrégora negativa formada seja dissipada e quebrada.
Seres humanos, passíveis a erros e sujeitos a situações que nos testam, estamos sempre em uma inconstância. Dara nós que nossas vidas fosse apenas uma linha retilínea sem qualquer embaraço. Verdadeira utopia!
Pois bem!
Antes de chegarmos aos terreiros, realizamos nossos ritual interno, onde intensificamos nossas vibrações, realizamos nossos banhos de ervas, equilibramos nossos eledás (chacras), tudo para que, ao chegarmos no terreiro, possamos nos doar e nos entregar nas vibrações da espiritualidade superior.
Não basta vestirmos uma roupa branca e irmos aos trabalhos com os corações e pensamentos totalmente impregnados com ódio, mágoa, rancor. Devemos, seja umbandista ou não, realizarmos nossa reforma íntima, abdicando de muitas situações, sentimentos que acarretam um mal estar físico, psicológico e espiritual.
Se estamos buscando um aprendizado e sermos melhores a cada dia, nossas atitudes devem ser revistas constantemente, pois só assim alcançaremos e cumpriremos com um pouco de nossa missão.
Então, de forma sábia, já somos conscientes e estamos cientes de que uma roupa branca ou uma incorporação não trará sua purificação. Devemos, antes de qualquer ato, abdicar de algumas situações e nos entregar de copo e alma para aquilo que nos propusemos a realizar.
Salienta-se que a espiritualidade, os guias e mentores espirituais, por mais de alta envergadura de evolução espiritual que estão, utilizam também de nossas energias para auxiliar aos necessitados. Não basta incorporar. Tem que saber se entregar!
Um médium que, por situações “x” que lhe ocasionaram uma certa irritação, jamais deve, naquele dia específico, trabalhar na gira de caridade dando os passes. Por mais amparo que tenha, naquele dia não estava psicologicamente preparado para trabalhar e sua energia carregada negativamente, pode surtir efeitos no corpo espiritual do irmão necessitado.
Parece que basta apenas fechar nossos olhos e incorporar, pois ali a entidade que estará realizando os trabalhos. Porém, sabemos que não é bem assim!
Há uma reciprocidade entre o médium e o mentor espiritual e ambos devem sempre estar em sintonia, nas mesmas vibrações, pois mesmo incorporado, pode o médium sofrer uma queda e começar uma fase de mistificação.
Salienta-se na máxima “Umbanda é coisa séria para gente séria”.
Mostro, de início, a responsabilidade inerente a cada um, principalmente àqueles que trabalham na linhagem de Umbanda ou vertentes espíritas. Devemos sempre nos vigiar, pautar nossas vidas na retidão de bons princípios e atos, pois contrariado, infringimos uma lei espiritual: “Amai ao próximo como a ti mesmo”.
Devemos realizar reformas íntimas em nossos corações, em nossos pensamentos. Devemos saber amar e sermos amados, devemos respeitar, renegar determinadas situações, abdicar de sentimentos errados e renová-los, saber perdoar e reconhecer nossos erros.
Muito apontamos nossos dedos para criticar, para dizer que não gosta de “fulano ou beltrano”, mas jamais procuramos saber se àquele irmão (ã) está com algum problema. É tão mais fácil criticar do que estender a mão amiga.
Por isso devemos nos amar, pois quem tem o amor própria não tem tempo para criticar seu semelhante, mas auxiliá-lo quando necessário.
Ser médium é isso, pois inúmeras vezes seremos chamados para ajudar àqueles que um dia nos fizeram mal, e por óbvio, não poderemos renegar a isso.
Conseguem observar quantas coisas se escondem atrás de um branco, colares e ritualísticas. De nada adianta realizarmos tudo isso, quando na realidade nossa carne está voltada para outras situações ou impregnadas de ódio e falta de amor.
Assim, ter em mente que, se desejamos realmente ajudar e sermos ajudados, muitas coisas precisamos mudar e que sejam internas, voltadas a cada um.
Assim, feito essa reflexão, vestimos o branco para ir ao encontro de nossa religiosidade e dispostos a ajudar àqueles que nos pedem socorro, sejam situações cármicas ou espirituais.
Chegamos ao terreiro, realizamos todos os procedimentos necessários e aguardamos o início de nossos trabalhos.
Por óbvio, tudo deve ter uma hierarquia, a qual devemos observância e obediência. Respeito as regras espirituais e as impostas pelo líder religioso. Se há uma hierarquia, há também cargos e funções, as quais são dotadas de responsabilidades e missões que devem ser cumpridas.
Iniciamos com o sacerdote de umbanda (pai de santo), àquele médium que, por longos e derradeiros anos, foi preparado fisicamente e espiritualmente pela espiritualidade para que conduzisse e cuidasse de outras pessoas.
Ser Sacerdote não é algo fácil ou prazeroso, mas exige uma responsabilidade consigo e para com os outros, tendo em vista que os cuidados dos demais médiuns depende exclusivamente daquele sacerdote.
Exige abdicação de sentimentos, pois este será o mais procurado para socorro e não deverá declinar de ajudar o solicitante. Faz parte de sua missão!
Logo no início disse que devemos realizar uma reforma íntima, saber perdoar e amar. Assim, imaginemos a hipótese de um sacerdote, cujo o qual é espelho e diretriz aos seus filhos espirituais, renega em ajudar e auxiliar seu inimigo, mesmo que de longas datas.
Seria contraditório dizer algo e praticar o inverso ao ensinado. E claro que isso não só compete ao sacerdócio, mas a todos nós, desde ateus a religiosos.
Cumpre ao sacerdote ter o zelo e a responsabilidade com suas condutas, seja dentro ou fora do terreiro, pois ele é o espelho dos demais irmãos. Além dos conhecimentos práticos, magísticos e litúrgicos, deve conhecer a si e aos seus filhos, sabendo orientar, ensinar e corrigir como se ali estivesse a figura de um pai com laços sanguíneos.
Sacerdote deve respeito e merece respeito, pois ele é a autoridade máxima dentro do terreiro, mas também passível a erros e correções quando necessária. Lembre-se: somos de carne e osso!
Em questões de hierarquia carnal temos de início os Pais e Mães, mas tudo tem sua base e logo encontramos como alicerces os médiuns, seja eles novatos ou àqueles que, através do dom mediúnico, ajudam o próximo.
Ser médium também é responsabilidade, mas também gratificação, pois esse dom lhe foi dado para auxilio e ajuda ao seu próximo. Assim como um objeto de porcelana que se não cuidado pode quebrar, a mediunidade também. Se mal utilizada, assim como lhe foi concedido para cumprir uma missão e resgate, ela pode ser retirada.
Médium de Umbanda deve sempre, antes de mais nada, saber suas limitações. Praticar desde o início sua reforma pessoal, crescer e mudar a cada dia, pois é isso que necessitamos, MUDANÇA!
Reconhecer seus erros, reconhecer quando está cometendo algo errado e corrigir sem medo de represálias, pois aí estará a simplicidade e humildade do médium de aprender com seus erros. Não basta apenas ter 30 anos de umbanda, quando em suma realidade internamente não absorveu ou abdicou de coisas que faz com que o nosso perispirito entre em um verdadeiro estado de putrefação.
Deve sempre seguir nas leis divinas, respeitar as orientações espirituais, reconhecer seus erros e saber o momento de agir. Se reconstruir a cada dia e entrar em paz consigo mesmo, renovando suas energias e sua fé.
Médium que se doa pela espiritualidade para ajudar, deve ter em mente que, naquele ato divino, deve esquecer a sacola dos problemas e se abrir de coração, possibilitando a aproximação dos espíritos falangeiros de luz e permitindo que façam um acoplamento de energias nossas e as que irradiam, tudo como forma de ajudar àqueles que chegam até nós.
Desta forma, um médium que passa um dia conturbado, com irritações, certamente não terá uma incorporação por completo e se abusar, transmitirá ao consulente energias não muito firmes, podendo ali gerar graves problemas espirituais.
Saber reconhecer sua inaptidão para trabalho em dias ruins, é ter a ciência que somos seres limitados e ainda ter a humildade de assim saber. É ter, antes de mais nada, amor ao seu semelhante, pois não transmitirá vibrações maléficas e dará ao consulente a oportunidade que seja ajudado de outras formas, com outros guias.
É não ser egocêntrico e o centro das atenções, afinal Umbanda não é espetáculo, mas religião. Médium nenhum pode se achar “o melhor”, pois em sede de espiritualidade todos somos leigos. Temos ciência do básico, mas do máximo, um eterno dilema.
Assim, cabe o médium vigiar seus sentimentos, respeitar seu irmão e amá-lo. Quem ama jamais terá a preocupação de entrar em questões que desagradam ou atém mesmo que te coloquem a beira de um abismo.
Deve sempre estudar, questionar seu dirigente, manter zelo na incorporação, manter sigilo do que é confiado. É claro que o que é confiado é para o guia, mas quando tratamos de mediunidades conscientes, o médium lembrará de tudo. Seria muito ruim e antiético revelar algo que não lhe compete a terceiros.
Consulta-se os guias e jamais o médium.
Lembre-se sempre que somos apenas veículos para que irmãos de luzes se comuniquem e pratiquem a caridade. Não somos mais nada que isso!
Como canais, devemos ter ética e postura durante a gira e até depois dela. Canal que esteja danificado ou poluído, será difícil uma passagem de elementos essenciais a nossa jornada e vida.
E da mesma forma deve se portar àqueles médiuns que, embora não incorporem, auxiliam dentro do ritual. Chamamos de Cambonos (cambones), os quais são de extrema importância, pois auxiliam as entidades incorporadas e ficam atentos quando algo de errado está acontecendo durante a gira.
São eles que prestam auxilio e muitas vezes têm ciência do que se passa com determinado consulente. Ser cambono é RESPONSABILIDADE, assim como todos os demais cargos exigem, e um manto de SEGREDO.
Quando um consulente chega defronte a entidade espiritual, ali expões segredos dos mais diversos tipos que, se necessário, deverá ter uma atuação imediata do guia espiritual. Se solicitado o auxílio do cambono, este deve se doar e ajudar, mas jamais ao término, expor o que estava se passando na vida daquela pessoa.
Olha que situação desconfortável que não geraria.
Não devemos, de forma alguma, espalhar aos quatros cantos do mundo o que se passa dentro de uma gira de umbanda. Assim como devemos mantar nossa “sacola de problemas” em casa para irmos a gira, quando saímos do trabalho umbandista devemos esquecer nossa “sacola religiosa” lá dentro.
Pensa você se um padre ou pastor revelasse todos os segredos que forem lhes confiados no ato da confissão. Certamente geraria um caos. Por qual motivo então na umbanda tem que ser diferente?
Tudo que se passa deve se manter em segredo e esquecido quando não estar mais no terreiro. Somos regidos por uma lei espiritual e uma lei carnal, sendo que podemos sofrer punições quando acometidos em erro.
Nossos comportamentos e atitudes devem ser condizentes com que pregamos. Devemos saber nossa posição e respeitar as hierarquias, regras e até mesmo regras que não foram impostas pelo guia ou pai de santo, mas que a nossa consciência diz.
Se contrariarmos ela, com certeza não deitaremos com a mesma paz anterior que antes. Aliás, já não deitamos confortavelmente, pois somos pecadores. Não sabemos perdoar, não sabemos amar, mas pior seria se fizéssemos algo que prejudica muito mais a terceiro.
Então, os comportamentos e atos dentro da umbanda devem ser seguidos a risca. Em caso de falhas, perdoados seremos, mas consequentemente sofreremos uma reprimenda por termos sidos negligentes, antiéticos e desrespeitosos com a casa em que trabalhamos, com seu dirigente e o pior, com o próprio plano espiritual.
Saiba, amados irmãos, que papel não faz ninguém melhor que o outro, mas são nossos atos que nos tornam diferente de muitos. Por isso, ame, para de criticar, saiba ouvir e olhe para seu próximo como irmão e seu semelhante. Você não é melhor, mas alguém em evolução como todos os demais mortais dessa terra.
Suplico a Olorum que, ao lerem, possam refletir da mensagem que propus trazer aos senhores. Que no novo amanhã, vocês abdiquem de sentimentos e passem a reformular a vida e chegar em um novo fim!

“Amar e ser amado, pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive,
Para vida eterna”.

Oxalá vos abençoe!

Pai Igor Luís de Camargo
Sacerdote de Umbanda e Coordenador Regional do
Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro.