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Sacerdote de Umbanda, formado pelo Templo de Umbanda Caboclo Sete Flechas, Ogã formado pelo Templo de Umbanda Cacique Pena Branca, Sócio - Filiado ao Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro e Coordenador Regional do SOI em Amparo/SP

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Ogã: Conceito e sua importância para os rituais de Umbanda e Cultos Afro.

Fato intrigante que observamos a cada gira, são os olhares atentos aos Ogãs e Curimbas no momento da abertura dos trabalhos. Todos nós somos impulsionados pela batida do atabaque e os cânticos entoados pelas Curimbas da Casa.

É o que mais nos chama atenção durante o correr da gira, até que em dado momento isso passa, voltando nossos olhos para o momento da incorporação. Já se pegaram fazendo isso?

Não por um acaso, todos nós admiramos àqueles que entoam os cânticos e àqueles que, lindamente, com alma e coração, tiram um belíssimo som dos "tambores de caboclo" (atabaque). Quanto mais entusiasmado e em sintonia estão os ogãs e curimbas, mas nos emocionamos e somos impulsionados por uma vibração fora do comum.

Essas pessoas, muito embora alguns pensam que não possuem grande importância dentro de nosso ritual, são os responsáveis por conduzir toda a carga vibratória de nossa casa, fazendo com que seja ela mais densa ou mais sutil, dependendo do caso. São eles, de forma clara, os responsáveis pelos impulsos de nossos corpos, os quais, dentro do compasso dos pontos, se põe a dançar, trazendo uma sensação de bem estar para dentro de nós e a religação entre o mundo terreno e o espiritual.

Ogã (tratamento aos homens) ou Yadogã (tratamento dado as mulheres), são pessoas de mais alto poder intuitivo dentro de nossos trabalhos; pessoas com mediunidade apurada e com a percepção de energias mais afloradas. São verdadeiros sacerdotes dentro do terreiro, responsáveis pelo equilíbrio e "manutenção" das energias vibracionais dentro dos terreiros no instante da gira.

São pessoas estruturadas e muito bem preparadas, passando por processos de confirmação, coroação ou iniciação (dependendo do culto), tudo para que tenham forças de conduzir os trabalhos dali em diante. São pessoas de confiança do Sacerdote/Dirigente Espiritual, pois são eles que lutarão bravamente no momento em que algo de errado acontecer na casa, devendo ter o zelo e a responsabilidade para quebrar, por exemplo, eventuais demandas que a casa possa sofrer.

Uma vez despreparados, pode levar a casa e todo o corpo mediúnico a beira de um abismo e serem atacados por uma outra carga vibratória, acarretando sérios problemas durante o trabalho. Assim como temos os pontos de segurança dentro do terreiro (tronqueira, casa das almas, peji..), os Ogãs e Curimbas também se encontram com a mesma denominação: São TRONQUEIRAS, ou seja, ponto de segurança do terreiro durante os trabalhos.

Uma vez desestruturados e a casa atingida, toda a corrente mediúnica se quebrará, podendo levar àqueles trabalhadores a um verdadeiro choque vibracional, podendo demorar algumas horas ou dias até se restabelecerem.

Por esse motivo, ogãs e curimbas devem se preparar muito antes de entrar para a corrente, entrando em contato com os mentores espirituais bem antes de chegarem ao centro e assumirem seus postos. É de vital importância esse preceito, para que não sejam instigados por qualquer força alheia que seja prejudicial, bem como possam estar amparados durante os trabalhos e sentirem toda a energia que a casa está movimentando.

Não é apenas saber tocar ou querer tocar. Assim como qualquer outro, ogã e curimba não é àquele que apenas faz um curso, mas àquele que têm o dom e a mediunidade para ser consagrado como tal (até porque o curso não vai simbolizar nada, pois àqueles que não são "escolhidos" não terminarão).
Muitos pensam que Ogã ou Curimba não têm mediunidade pelo fato de não incorporarem, o que é uma leviandade falar, tendo em vista que possuem uma mediunidade diferenciada, a qual fala pelas mãos e pela voz.

Digo isso para desmistificar falsas falácias e fantasias criadas dentro desse contexto, possibilitando maior esclarecimento ao leitor.

Sobre esse aspecto, o próprio nome traduzido da língua iorubá, temos que Ogã ou Yadogã simboliza "o senhor do meu terreiro" ou "a senhora do meu terreiro", nos mostrando de forma clara e objetiva o tratamento e o respeito que temos que ter com essas pessoas, pois se você médium está tendo uma boa incorporação e sentindo boas vibrações, dentro de um contexto, a maior parcela é dada aos Ogãs e Curimbas, que estão dedicados a movimentar todas as energias e segurá-las para que a essência do trabalho não se perca.

Devemos ter o zelo com esses senhores (as), externando nossos sinceros respeitos e considerações, pois sem eles não teríamos, não só a segurança, mas o arrepio de nosso corpo e a alegria transmitida no momento do rufo do tambor.

Saravá Ogã!


Pai Igor Luís de Camargo
Sacerdote de Umbanda e Ogã / Coordenador Regional do SOI

terça-feira, 17 de maio de 2016

Umbanda: O Pronto Socorro - 24 horas.

Gostaria de poder entender o que se passa pela cabeça de cada um, as formas de pensamento, opiniões e convicções, pois em determinados momentos elas se mostram contraditórias e insuscetíveis de credibilidade.
Como umbandista que sou (isso já está mais do que evidenciado), sou costumado ver e ouvir críticas a respeito da minha escolha religiosa. Muitos a criticam sem uma fundamentação, demonstrando a ignorância e o preconceito instalado, outros fundamentam com base com o que ouvem dentro de outros segmentos religiosos e uns tiram suas próprias conclusões, não concordando e nem discordando, mas ficando neutros no assunto.
O que me espanta e me deixa estarrecido, de certo modo, é observar que o desconhecimento é tanto e, revés de procurarem primeiro um esclarecimento e tentar entender que a umbanda é RELIGIÃO, apenas recorrem a FÉ UMBANDISTA quando estão passando por problemas.
Estranho, pois muitas vezes são pessoas que discordam de suas práticas, dizem ser "culto ao demônio", repudiam e insultam seus adeptos. Porém, quando é viável, recorrem a essa "solução" para alívio de seus problemas. Loucura, não?!
Procuro entender, mas não consigo. A complexidade e a perplexidade é tamanha, que não encontro uma reposta para tamanha indagação e indignação.
Parece que fico perdido em meio a isso e, por mais que eu tente dizer para mim mesmo que sei o motivo, ao mesmo tempo me fogem palavras, pensamentos, restando um sentimento de dúvida e simplesmente curiosidade em saber o porquê de tudo isso.
Parece que, pela crendice popular e as falácias que instituem sobre a Umbanda, pensam que somos um PRONTO SOCORRO 24H, onde chegarão com seus problemas, acham que sairão de lá "medicados" e livres das coisas do mundo profano, ou melhor, blindados, achando-se o "super man" e totalmente intocáveis.
Reformulo: é pela crendice popular e falácias que giram em torno de nossa religião que isso ocorre.
Fato mais incontroverso ainda que, se você tem sua fé, sua religião, por que tem que procurar outra para resolver seus problemas?
Não que deixaremos de acolher a quem precisa, mas 99% dos casos que nos chegam, são pessoas que apenas recorrem à Umbanda e a seus médiuns para se "livrarem" de um mal momentâneo e posteriormente retornam no exercício de suas religiões.
Ora, a solução não está na religião, mas sim na sua fé, na sua crença em Deus, na sua forma de agir e pensar. Umbanda não te livra de nada, mas aconselha-os, assim como qualquer outra instituição fará.
Agora, se o que falta é fé e pensamento equilibrado, sinto-lhe informar que nenhuma religião será o suficiente. Devemos ainda lembrar que, muito embora exista a religião (seja ela qual for) para nos confortar, há uma lei que norteia nossa vida desde o momento de nosso nascimento até a nossa morte: LIVRE ARBÍTRIO.
Não devemos esquecer que, tudo o que plantamos será colhido, seja no meio do percurso ou no final dele. Não esqueça que estamos aqui para aprendizado e evolução, sendo primordial que você entenda que enfrentamos nossas turbulências diárias por um fino propósito: aprendizado e amadurecimento.
O que vejo quando recorrem à Umbanda para a "solução dos problemas", são pessoas que querem encontrar maneiras hábeis e fáceis para escapar de situações indesejáveis sem sequer lutar. Isso é merecer?
Pois bem, garanto que em UMBANDA você não encontrará isso.
Assim como qualquer outra religião, nossa missão e função é trazer o ser humano para perto do sagrado, devendo ele conduzir sua vida nos princípios intrínsecos à doutrina religiosa e a palavra divina.
Não é porque acham que Umbanda é baderna e pronto socorro para momentos apenas quando precisam, que não tenhamos ética, moral e princípios.
Antes de qualquer coisa, não deixe que te tolham de buscar o conhecimento. Busque-o e conheça outras vertentes, ou melhor, respeite-as!
A solução está em cada um de nós e não na forma que cultuamos à Deus. Temos métodos diferentes de praticar a fé, mas que seguem princípios religiosos de amor, perseverança, caridade e PACIÊNCIA!
Ensinamos isso e não métodos para você se esquivar ou se livrar de enroscos.

Pai Igor Luís de Camargo

terça-feira, 3 de maio de 2016

Ritual do Bate Cabeça

Pouco há de se falar a respeito desse ritual, mas você conhece-o? Sabe sua origem?

Pois bem!

Sabemos que a umbanda provém dos cultos afros. Recebemos, de forma certeira, a interferência do Cristianismo, Indianismo, Kardecismo e, principalmente, do Africanismo.
Na época em que os escravos foram trazidos ao solo pátrio, encontraram dificuldades em professar a fé que carregavam; estavam impossibilitados de cultuarem os Orixás.

Tal fato ocorrera, pois a Igreja Católica era muito forte e influente na sociedade, os quais consideravam essas práticas como obras de bruxaria ou magia negra.

Encontraram, então, uma forma de professarem sua fé sem que fossem apanhados ou castigados, sincretizando seus Orixás com as imagens de santos católicos (daí provém o sincretismo religioso).

Até então, sem grande novidades.

Porém, mesmo encontrando uma forma de cultuarem seus Orixás, utilizando-se do catolicismo para isso, alguns rituais e tradições foram mantidas. Dentro das imagens dos santos, os negros colocavam uma simbologia do orixá (geralmente o Otá - pedra), o qual representava o Axé do Orixá, ou seja, a sua força.

Há alguns casos que, revés de introduzirem os Otás diretamente nas imagens, os colocavam enterrados ao solo, também representando a força e a vitalidade do Orixá.

Assim sendo, antes de iniciarem seus cultos, era comum que encostassem suas cabeças no chão em forma de reverência àquela força, em forma de respeito e devoção, além de ser uma forma de receber as energias benevolentes.

Tal prática é conhecida como o "Bate Cabeça". Esse ritual permanece até os dias atuais, onde os filhos de fé deitam com o corpo estirado no chão, encostam suas cabeças no solo e ali fazem suas reverências aos Orixás, Guias e Protetores, bem como simbolizando o respeito ao sacerdote/sacerdotisa ali presente.

Naquele momento, realizam suas preces dirigidas à Espiritualidade, pedindo a permissão para pisar em solo sagrada, suplicando que sejamos assistidos pelo astral superior, agradecendo as múltiplas dádivas que recebemos e etc.

Geralmente os médiuns deitam-se sobre esteiras (geralmente de palhas), as quais ficam localizadas no meio do abaçá (local onde se realiza o culto), pois ali, comumente, está a firmeza e assentamento do orixá que rege àquele templo de Umbanda.

Simples, de fácil entendimento, porém com grande fundamento e importância dentro do ritual.

Assim surgiu o ritual do "Bate Cabeça", o qual permanece até os dias atuais.

Axé a todos!

Pai Igor