Fato intrigante que observamos a cada gira, são os olhares atentos aos Ogãs e Curimbas no momento da abertura dos trabalhos. Todos nós somos impulsionados pela batida do atabaque e os cânticos entoados pelas Curimbas da Casa.
É o que mais nos chama atenção durante o correr da gira, até que em dado momento isso passa, voltando nossos olhos para o momento da incorporação. Já se pegaram fazendo isso?
Não por um acaso, todos nós admiramos àqueles que entoam os cânticos e àqueles que, lindamente, com alma e coração, tiram um belíssimo som dos "tambores de caboclo" (atabaque). Quanto mais entusiasmado e em sintonia estão os ogãs e curimbas, mas nos emocionamos e somos impulsionados por uma vibração fora do comum.
Essas pessoas, muito embora alguns pensam que não possuem grande importância dentro de nosso ritual, são os responsáveis por conduzir toda a carga vibratória de nossa casa, fazendo com que seja ela mais densa ou mais sutil, dependendo do caso. São eles, de forma clara, os responsáveis pelos impulsos de nossos corpos, os quais, dentro do compasso dos pontos, se põe a dançar, trazendo uma sensação de bem estar para dentro de nós e a religação entre o mundo terreno e o espiritual.
Ogã (tratamento aos homens) ou Yadogã (tratamento dado as mulheres), são pessoas de mais alto poder intuitivo dentro de nossos trabalhos; pessoas com mediunidade apurada e com a percepção de energias mais afloradas. São verdadeiros sacerdotes dentro do terreiro, responsáveis pelo equilíbrio e "manutenção" das energias vibracionais dentro dos terreiros no instante da gira.
São pessoas estruturadas e muito bem preparadas, passando por processos de confirmação, coroação ou iniciação (dependendo do culto), tudo para que tenham forças de conduzir os trabalhos dali em diante. São pessoas de confiança do Sacerdote/Dirigente Espiritual, pois são eles que lutarão bravamente no momento em que algo de errado acontecer na casa, devendo ter o zelo e a responsabilidade para quebrar, por exemplo, eventuais demandas que a casa possa sofrer.
Uma vez despreparados, pode levar a casa e todo o corpo mediúnico a beira de um abismo e serem atacados por uma outra carga vibratória, acarretando sérios problemas durante o trabalho. Assim como temos os pontos de segurança dentro do terreiro (tronqueira, casa das almas, peji..), os Ogãs e Curimbas também se encontram com a mesma denominação: São TRONQUEIRAS, ou seja, ponto de segurança do terreiro durante os trabalhos.
Uma vez desestruturados e a casa atingida, toda a corrente mediúnica se quebrará, podendo levar àqueles trabalhadores a um verdadeiro choque vibracional, podendo demorar algumas horas ou dias até se restabelecerem.
Por esse motivo, ogãs e curimbas devem se preparar muito antes de entrar para a corrente, entrando em contato com os mentores espirituais bem antes de chegarem ao centro e assumirem seus postos. É de vital importância esse preceito, para que não sejam instigados por qualquer força alheia que seja prejudicial, bem como possam estar amparados durante os trabalhos e sentirem toda a energia que a casa está movimentando.
Não é apenas saber tocar ou querer tocar. Assim como qualquer outro, ogã e curimba não é àquele que apenas faz um curso, mas àquele que têm o dom e a mediunidade para ser consagrado como tal (até porque o curso não vai simbolizar nada, pois àqueles que não são "escolhidos" não terminarão).
Muitos pensam que Ogã ou Curimba não têm mediunidade pelo fato de não incorporarem, o que é uma leviandade falar, tendo em vista que possuem uma mediunidade diferenciada, a qual fala pelas mãos e pela voz.
Digo isso para desmistificar falsas falácias e fantasias criadas dentro desse contexto, possibilitando maior esclarecimento ao leitor.
Sobre esse aspecto, o próprio nome traduzido da língua iorubá, temos que Ogã ou Yadogã simboliza "o senhor do meu terreiro" ou "a senhora do meu terreiro", nos mostrando de forma clara e objetiva o tratamento e o respeito que temos que ter com essas pessoas, pois se você médium está tendo uma boa incorporação e sentindo boas vibrações, dentro de um contexto, a maior parcela é dada aos Ogãs e Curimbas, que estão dedicados a movimentar todas as energias e segurá-las para que a essência do trabalho não se perca.
Devemos ter o zelo com esses senhores (as), externando nossos sinceros respeitos e considerações, pois sem eles não teríamos, não só a segurança, mas o arrepio de nosso corpo e a alegria transmitida no momento do rufo do tambor.
Saravá Ogã!
Pai Igor Luís de Camargo
Sacerdote de Umbanda e Ogã / Coordenador Regional do SOI
O blog Doutrina Umbandista tem como objetivo levar o conhecimento do Culto da Umbanda a seus adeptos e simpatizantes, além de ser uma forma de divulgar a doutrina àqueles que pouco conhecem nosso ritual.
Quem sou eu
- Doutrina Umbandista
- Sacerdote de Umbanda, formado pelo Templo de Umbanda Caboclo Sete Flechas, Ogã formado pelo Templo de Umbanda Cacique Pena Branca, Sócio - Filiado ao Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro e Coordenador Regional do SOI em Amparo/SP
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